Pacientes com diabetes mellitus estão entre os grupos mais suscetíveis a infecções graves. A resistência à insulina e os altos níveis de glicose no sangue acabam reduzindo a resposta imunológica do organismo. Isso ocorre porque as células de defesa do corpo (glóbulos brancos) se tornam menos eficazes quando os níveis de açúcar no sangue estão descontrolados.
“As infecções também podem levar a uma piora da glicemia por conta da produção de proteínas inflamatórias que reduzem ainda mais a ação da insulina, levando a um efeito cascata”, explica a endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Por isso, os médicos ouvidos pelo Metrópoles afirmam que ter as vacinas em dia é uma estratégia essencial para que quem tem diabetes se mantenha saudável.
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Segundo o pediatra e infectologista Marco Aurélio Safadi, coordenador do Departamento de Imunização da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), manter a vacinação regular é fundamental para reduzir a mortalidade em pessoas com diabetes.
“A diabetes faz os indivíduos terem maior risco de complicações para algumas doenças infecciosas. Isso destaca a importância de que tenhamos nesses indivíduos um esquema de imunização completo e atualizado, com destaque para a importância de algumas vacinas nas diversas faixas etárias pertinentes”, afirma Safadi.
Vacinas que quem tem diabetes precisa tomar
1. Gripe
A gripe é frequentemente subestimada, mas representa ameaça séria a quem convive com doenças crônicas. Cerca de 70% das mortes por influenza no Brasil ocorrem entre os grupos de risco, sendo a diabetes responsável por de 20 a 30% desses casos.
Nos serviços públicos, pessoas com diabetes têm acesso à versão trivalente, aplicada nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE).
2. Pneumocócica
“Pessoas com diabetes têm um risco até 50% maior de ter pneumonia ao enfrentar infecções virais respiratórias. Já a chance de ter infecções generalizadas e meningite em consequência de doenças pneumocócicas é quatro vezes maior, por isso é tão importante manter o calendário de vacinas em dia”, explica o infectologista Leonardo Weissmann, que é professor do curso de Medicina da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), Campus Guarujá.
O esquema de vacinação pneumocócica recomendado envolve duas vacinas diferentes, aplicadas de forma sequencial. A VPC10, indicada para crianças pequenas, é oferecida pelo SUS.
Já a vacina polissacarídica 20-valente (VPP20) complementa a proteção a partir dos dois anos de idade. Disponível nos CRIE, exige duas doses com intervalo de cinco anos, sendo necessária uma terceira para quem tomou a segunda antes dos 60 anos.
3. Herpes-zóster
Embora a vacina contra a doença não esteja disponível no SUS, os especialistas recomendam que aqueles com possibilidades financeiras façam a vacinação da herpes-zóster na rede privada.
O risco da doença é significativamente elevado em adultos com diabetes, especialmente após os 65 anos. A vacina é indicada a partir dos 50 anos.
4. Hepatite B
Pessoas com diabetes tipo 2 infectadas pelo vírus da hepatite B têm risco dobrado de desenvolver complicações hepáticas graves, como cirrose e câncer. A infecção também dificulta o controle glicêmico, já que o fígado é intimamente ligado ao pâncreas.
A vacina contra hepatite B está disponível tanto na rede pública quanto privada. São três doses, e recomenda-se exame de Anti-HBs após a última aplicação para confirmar a proteção. Se os níveis forem baixos, o esquema vacinal deve ser repetido.
5. VSR
Pessoas com diabetes também têm maior risco de complicações graves e potencialmente fatais quando expostas ao vírus sincicial respiratório (VSR). A vacina está disponível no SUS apenas para bebês (que também são muito frágeis diante da doença viral), mas pode ser tomada também por idosos e pessoas com comorbidades na rede particular.
Além das vacinas específicas, o esquema deve incluir todas as imunizações do calendário nacional, como tétano, tríplice viral, hepatite A, febre amarela e HPV.
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A diabetes é uma doença que tem como principal característica o aumento dos níveis de açúcar no sangue. Grave e, durante boa parte do tempo, silenciosa, ela pode afetar vários órgãos do corpo, tais como: olhos, rins, nervos e coração, quando não tratada
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A diabetes surge devido ao aumento da glicose no sangue, que é chamado de hiperglicemia. Isso ocorre como consequência de defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas
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A função principal da insulina é promover a entrada de glicose nas células, de forma que elas aproveitem o açúcar para as atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação ocasiona o acúmulo de glicose no sangue, que em circulação no organismo vai danificando os outros órgãos do corpo
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Uma das principais causas da doença é a má alimentação. Dietas ruins baseadas em alimentos industrializados e açucarados, por exemplo, podem desencadear diabetes. Além disso, a falta de exercícios físicos também contribui para o mal
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A diabetes pode ser dividida em três principais tipos. A tipo 1, em que o pâncreas para de produzir insulina, é a tipagem menos comum e surge desde o nascimento. Os portadores do tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manter a glicose no sangue em valores normais
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Já a diabetes tipo 2 é considerada a mais comum da doença. Ocorre quando o paciente desenvolve resistência à insulina ou produz quantidade insuficiente do hormônio. O tratamento inclui atividades físicas regulares e controle da dieta
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A diabetes gestacional acomete grávidas que, em geral, apresentam histórico familiar da doença. A resistência à insulina ocorre especialmente a partir do segundo trimestre e pode causar complicações para o bebê, como má formação, prematuridade, problemas respiratórios, entre outros
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Além dessas, existem ainda outras formas de desenvolver a doença, apesar de raras. Algumas delas são: devido a doenças no pâncreas, defeito genético, por doenças endócrinas ou por uso de medicamento
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É comum também a utilização do termo pré-diabetes, que indica o aumento considerável de açúcar no sangue, mas não o suficiente para diagnosticar a doença
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Os sintomas da diabetes podem variar dependendo do tipo. No entanto, de forma geral, são: sede intensa, urina em excesso e coceira no corpo. Histórico familiar e obesidade são fatores de risco
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Alguns outros sinais também podem indicar a presença da doença, como saliências ósseas nos pés e insensibilidade na região, visão embaçada, presença frequente de micoses e infecções
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O diagnóstico é feito após exames de rotina, como o teste de glicemia em jejum, que mede a quantidade de glicose no sangue. Os valores de referência são: inferior a 99 mg/dL (normal), entre 100 a 125 mg/dL (pré-diabetes), acima de 126 mg/dL (Diabetes)
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Qualquer que seja o tipo da doença, o principal tratamento é controlar os níveis de glicose. Manter uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios ajudam a manter o peso saudável e os índices glicêmicos e de colesterol sob controle
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Quando a diabetes não é tratada devidamente, os níveis de açúcar no sangue podem ficar elevados por muito tempo e causar sérios problemas ao paciente. Algumas das complicações geradas são surdez, neuropatia, doenças cardiovasculares, retinoplastia e até mesmo depressão
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Desinformação ainda é obstáculo
Apesar das diretrizes estabelecidas, muitos pacientes não recebem orientação adequada. Segundo a cartilha da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) para a vacinação de pessoas com diabetes, a baixa cobertura da atenção básica e a falta de conhecimento sobre a importância da vacinação dificultam a adesão de pacientes às campanhas de imunização.
“A imunização desses pacientes é, portanto, importante estratégia de proteção da saúde e de promoção da qualidade de vida. O grande desafio é vacinar esta população. Salvo em grandes campanhas, a informação sobre a importância das vacinas não costuma chegar à população”, diz a cartilha da Sbim e da SBD.
O acesso desigual à vacinação, especialmente em regiões mais distantes dos centros urbanos, contribui para a baixa cobertura. O fortalecimento das campanhas de conscientização é apontado como caminho necessário para mudar esse cenário.
Infecções como possíveis gatilhos
Além de proteger contra complicações, a ciência trabalha com a hipótese de que algumas vacinas podem atuar indiretamente na prevenção de casos de diabetes tipo 1 (DM1). Geralmente manifestada a partir da infância e da adolescência, a doença crônica ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca as células do pâncreas que produzem insulina, um hormônio essencial para regular o açúcar no sangue.
Alguns médicos acreditam que um dos “gatilhos” do desenvolvimento pode estar relacionado a infecções virais, algumas delas preveníveis com as vacinas.
“A causa da DM1 é um processo complexo, parcialmente compreendido. A pessoa nasce com uma predisposição genética, mas a diabetes tipo 1 só vai acontecer se ocorrer a exposição a um “gatilho“ ambiental, que é variável entre as pessoas e pode ser um vírus”, explica a médica Solange Travassos, vice-presidente da SBD.
Os virus que os estudos associaram com maior frequência como gatilhos virais para a diabetes tipo 1 foram o rotavírus, que tem vacina oral administrada em crianças menores de seis meses, e os enterovírus. Este grupo causa uma série de doenças, desde a doença Mão-Pé-Boca (DMPB) até a poliomelite. Esta última é prevenível com vacina.
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