Após seis semanas de julgamento, a Meta encerrou sua defesa no processo antitruste movido pela Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês). A empresa argumenta que, ao contrário do que sustenta o órgão regulador, WhatsApp e Instagram não seriam melhores se tivessem seguido caminhos independentes. Para a big tech, as aquisições feitas há mais de uma década permitiram que os dois aplicativos atingissem níveis de escala e utilidade que dificilmente alcançariam sozinhos.
A FTC acusa a Meta de monopolizar o mercado de redes sociais voltadas à conexão entre amigos e familiares, e pediu que o juiz James Boasberg considerasse um cenário hipotético em que Instagram e WhatsApp prosperassem fora do controle da empresa. Na etapa final do julgamento, a Meta respondeu com a tese oposta: os apps, segundo ela, estão tão bons quanto poderiam estar — e isso graças ao suporte da companhia.
WhatsApp e Instagram dependiam de estrutura e escala, diz Meta
Durante os quatro dias de defesa, a Meta convocou nomes como Brian Acton, cofundador do WhatsApp, e um ex-executivo da infraestrutura do Instagram.
Os depoimentos buscaram reforçar a ideia de que os aplicativos precisavam de apoio técnico, escalabilidade e recursos que apenas uma grande empresa poderia fornecer.
A estratégia foi uma tentativa de rebater falas anteriores de Kevin Systrom, cofundador do Instagram, que alegou que a Meta restringiu investimentos e recursos no app após a aquisição.
A empresa sustenta que, sem sua administração, os aplicativos poderiam ter enfraquecido ou permanecido irrelevantes diante da concorrência.
Ao invés de representar uma ameaça ao poder da Meta, como alega a FTC, Instagram e WhatsApp teriam se tornado menos úteis aos consumidores.
TikTok no centro do debate sobre concorrência
Um ponto central da defesa da Meta foi a tentativa de redefinir o que constitui concorrência no setor. A FTC argumenta que plataformas como TikTok e YouTube não pertencem ao mesmo mercado de serviços sociais pessoais, pois são focadas em entretenimento. A Meta discorda e afirma que o fator relevante não é o uso específico de cada app, mas sim a disputa por tempo, atenção e receita publicitária dos usuários.
Economistas chamados pela empresa destacaram que o crescimento do TikTok representa uma ameaça concreta aos produtos da Meta. Ainda assim, o juiz Boasberg indicou que essa abordagem pode ser excessivamente ampla. Em uma ordem judicial anterior, ele ironizou que aceitar essa tese exigiria considerar que a Meta compete até com atividades como “assistir a um filme com amigos ou ler um livro na biblioteca”.
Debate sobre o tamanho do Instagram nos EUA
Outro ponto levantado durante o julgamento foi o alcance do Instagram no mercado americano. Segundo o diretor de marketing da Meta, Alex Schultz, quase todos os usuários elegíveis nos EUA já estão na plataforma, o que explicaria a desaceleração no crescimento. A empresa argumenta que, por isso, disputar a atenção diária dos usuários — especialmente frente a TikTok e YouTube — se tornou mais importante do que conquistar novos cadastros.
O juiz Boasberg reconheceu a validade do argumento, mas pediu ao economista da FTC, Scott Hemphill, que comentasse. Hemphill afirmou que o fato de o Instagram ter crescido sob a gestão da Meta não comprova que a experiência do usuário melhorou, e sugeriu que o mercado como um todo poderia ser mais benéfico aos consumidores se as aquisições não tivessem ocorrido.
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Facebook tenta retomar conexão entre amigos
Apesar de insistir que o compartilhamento entre amigos e familiares não é mais central no uso das redes sociais, a Meta reconheceu que parte do público ainda valoriza esse aspecto. Como resposta, a empresa lançou o “OG Facebook”, um recurso que mostra apenas postagens de conexões diretas, excluindo recomendações algorítmicas — hoje predominantes no feed principal da plataforma.
Segundo Tom Alison, chefe do Facebook, o conteúdo de amigos ainda está disponível, mas pode ser necessário “rolar o dia inteiro” para encontrá-lo. A mudança reflete o desafio da Meta em equilibrar o foco em recomendação de conteúdo com o apelo original de conectar pessoas conhecidas.
Decisão final ainda não foi tomada
O juiz James Boasberg ainda não anunciou seu veredito. Ele rejeitou o pedido da Meta por uma decisão antecipada e indicou que avaliará com cautela os argumentos das duas partes. Caso decida a favor da FTC, a agência poderá pedir a separação de Instagram e WhatsApp da Meta — algo que a empresa afirma ser um risco para a inovação.
Em comunicado, o porta-voz da empresa, Chris Sgro, disse que o processo mostrou “a natureza dinâmica e hipercompetitiva da indústria de tecnologia”. Segundo ele, desfazer aquisições antigas não traria benefícios aos consumidores. “A Meta é uma história de sucesso americana, e seguiremos inovando para atender quem usa nossos serviços”, concluiu.
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