No ar na faixa das nove, o remake de Vale Tudo coloca novamente em destaque um tema urgente e ainda cercado de tabus: o alcoolismo. Na pele de Renata Sorrah, em 1988, e agora interpretada por Paolla Oliveira, Heleninha Roitman tem sua trajetória marcada pela dependência do álcool, uma doença séria, silenciosa e que ainda enfrenta muito preconceito.
Segundo a publicação Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024, do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), cerca de 6 milhões de adultos no Brasil consomem bebidas em padrão de risco para dependência. A cada hora, uma pessoa morre por causas relacionadas ao alcoolismo no país.
As mulheres representam 9,1% dessas mortes. “Elas enfrentam impactos do consumo de álcool de forma mais rápida e severa em comparação aos homens. São mais propensas a desenvolver doenças cardíacas, cirrose e hepatite alcoólica, além de apresentarem maior risco de lapsos de memória e outros tipos de danos cerebrais”, alerta a psicóloga Tatiana Serra, em entrevista à AnaMaria.
Uma doença cercada por sentimentos intensos
O alcoolismo impacta mais a saúde das mulheres, que também sofrem mais preconceito do que os homens que passam pelos mesmos desafios. Há um estigma em relação às mulheres que enfrentam a doença, juntamente com uma expectativa irreal em torno do gênero. Esse julgamento agrava um cenário já fragilizado pela doença, resultando em sentimentos negativos intensos.
“As mulheres enfrentam barreiras únicas para acessar o tratamento, como a baixa percepção da necessidade de procurá-lo, culpa e vergonha decorrentes das expectativas tradicionais de gênero, outras comorbidades psiquiátricas e medo do serviço de proteção à criança quando ela é a principal responsável pelo cuidado dos filhos”, explica Olivia Pozzolo, psiquiatra e médica pesquisadora do CISA.
A psicóloga acrescenta que fatores como depressão e ansiedade estão frequentemente ligados ao alcoolismo. Situações como perda de emprego, separação, distanciamento de entes queridos e conflitos familiares podem funcionar como gatilhos para o desenvolvimento da doença.
Como identificar comportamentos de risco?
Reconhecer os sinais do alcoolismo pode ser o primeiro passo para buscar ajuda. A dependência nem sempre se apresenta de forma escancarada, muitas vezes, ela surge de maneira sutil, entre hábitos que, à primeira vista, parecem inofensivos, como, todos os dias, precisar tomar uma taça de vinho.
Vale Tudo coloca novamente em destaque um tema urgente e ainda cercado de tabus: o alcoolismo – Crédito: Globo
“A pessoa apresenta a necessidade de consumir álcool diariamente, acompanhada de tremores quando fica sem a substância. Além disso, há alterações de humor, com uma tendência a se mostrar irritadiça quando questionada sobre o uso constante de álcool”, explica Tatiana.
Comportamentos que merecem atenção:
Beber sozinha com frequência;
Sentir necessidade urgente de consumir álcool em momentos de estresse ou tristeza;
Não conseguir parar de beber mesmo após episódios negativos;
Negligenciar responsabilidades no trabalho, nos estudos ou na família por causa do consumo;
Tolerância ao álcool: aumentar cada vez mais a quantidade de bebida para sentir os mesmos efeitos.
Na tela e na vida real
A história de Heleninha Roitman não é ficção para muitas mulheres. Ela representa uma realidade dolorosa, porém, mais comum do que imaginamos. Muitas mulheres enfrentam a dependência tentando manter as aparências, escondendo os próprios limites e lidando sozinha com o sofrimento, assim como a personagem de Vale Tudo. Na vida real, esse isolamento pode ser ainda mais cruel.
O primeiro passo para enfrentar o alcoolismo é reconhecer a dependência e buscar ajuda. Em geral, uma equipe multiprofissional é responsável pelo cuidado, mas o primeiro profissional a ser procurado pode ser um psiquiatra ou uma psicóloga. Em casos mais graves, a internação pode ser realizada. Por trás da bebida, muitas vezes, há dor, mas pode haver recomeço.
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A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (18 de abril). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.