Observações realizadas pelo Telescópio James Webb (JWST) entre 2022 e 2023 revelaram que a atmosfera de Plutão é radicalmente diferente da de outros planetas do Sistema Solar. O estudo foi realizado por uma equipe de astrônomos liderada por Tanguy Bertrand, do Observatório de Paris, na França, e publicado na última segunda-feira (2/6) no periódico Nature Astronomy.
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A inspiração dos autores veio a partir de uma teoria proposta pelo astrônomo Xi Zhang, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, nos Estados Unidos, em 2017. O cientista se baseou nas imagens feitas pela sonda espacial New Horizons em 2015, que passou por Plutão e Caronte, sua maior Lua, revelando detalhes impressionantes sobre a atmosfera do planeta anão.
Confirmação da teoria sobre Plutão
Anteriormente, Plutão era considerado quase um bloco de gelo no espaço, mas a New Horizons mostrou que o planeta era muito mais que isso: ele possui uma superfície cheia de relevos e atmosfera dinâmica, rica em nitrogênio, metano e monóxido de carbono.
Com as informações da sonda, Zhang teorizou, em artigo publicado em 2017 na revista científica Nature, que a temperatura do planeta era determinada por partículas de neblina que se movem de acordo com a temperatura. Quando aquecidas pela luz do Sol, sobem, e quando resfriadas, descem.
O processo afetaria diretamente como Plutão perde ou retém calor. Se a neblina estivesse mesmo resfriando Plutão, ela deveria emitir radiação infravermelha.
O JWST observa o Universo em luz infravermelha, ou seja, consegue ver o calor. Anos depois da publicação da teoria, o telescópio detectou que a atmosfera de Plutão é composta por partículas sólidas em suspensão e não apenas gases, como acontece na Terra, Marte e Júpiter, e confirmou a hipótese de Zhang.
“Foi uma ideia maluca e ficamos muito orgulhosos. Na ciência planetária, não é comum ter uma hipótese confirmada tão rapidamente, em apenas alguns anos. Nos sentimos muito sortudos e animados”, explica Zhang, em comunicado.
Ilustração colorida mostra representações de Plutão (canto inferior direito) e Caronte (canto superior esquerdo)
As observações do JWST também mostraram que há uma migração sazonal de depósitos de gelo na superfície de Plutão impulsionada por mudanças térmicas. Parte desse gelo pode ser até transferido para Caronte, um fenômeno que não acontece em nenhum corpo presente no Sistema Solar.
A confirmação da teoria sobre Plutão pode ajudar os cientistas a entender melhor a atmosfera da Terra primitiva, que também era rica em nitrogênio e hidrocarbonetos.
“Ao estudar a névoa e a química de Plutão, podemos obter novos insights sobre as condições que tornaram a Terra primitiva habitável”, destaca Zhang.
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