Irã é a nova Pérsia? Entenda o que mudou nos últimos 90 anos

De Ciro, o Grande, o terror dos gregos antigos, passando pela revolução de 1979 e o atual conflito com Israel, o Irã é um país protagonista de grandes momentos da história mundial há milênios.

Mas para muita gente, a participação do Irã na história antiga é menos conhecida, afinal, o país foi por milênios conhecido como Pérsia para nós, ocidentais.

Entenda a guerra Israel x Irã

Depois de diversas ameaças, Israel lançou o que chamou de “ataque preventivo” contra o Irã. O foco da operação foi o programa nuclear iraniano.
O principal objetivo da ação, segundo o governo israelense, é impedir que o Irã consiga construir uma arma nuclear.
Como resposta à operação israelense Leão Ascendente, o Irã lançou um exército de drones e mísseis contra o território de Israel.
Em um pronunciamento em 14/6, o premiê Benjamin Netanyahu afirmou que a ofensiva deve continuar. Ele prometeu ataques contra todas as bases iranianas.

Irã é a mesma coisa que Pérsia?

A mudança de nome ocorreu há pouco mais de 90 anos. Em março de 1935, um decreto da autoridade real do período, o xá Reza Pahlavi, mudou o nome do país para Irã. Mas porquê?

A medida tinha um objetivo nacionalista, de fortalecer a identidade local, afinal, os iranianos já se chamavam assim há muitos séculos.

Para os iranianos, a palavra Irã tem raízes antigas. Desde o período sassânida, no século 3, ela era usada como autodesignação. Deriva de Aryanam, que significa “terra dos arianos”.

“A palavra Pérsia surge quando o famoso rei Ciro, no século 4 antes de Cristo, expandiu seu território em uma região que ia do atual Egito à Índia, chegando até a Turquia. Ele vinha de uma região que os gregos chamavam de Pérsia e daí surge este nome, a partir já do olhar estrangeiro”, explica o professor Antônio Ferreira, geógrafo de Florianópolis (SC).

O período em que o iraniano se consolida como a identidade local surge no século 3 depois de Cristo, já no Império Romano, quando a região ficou conhecida como Império Sassânida. Desde então, os iranianos mantiveram os dois nomes, o Irã como um nome nativo do país e a Pérsia como um nome mais internacional.

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Nome novo, passado milenar

A Pérsia/Irã surgiu por volta do ano 550 a.C., quando Ciro unificou as nações do planalto iraniano e passou a exercer domínio sobre elas. Foi ele quem em 539 a.C., autorizou o retorno dos judeus à Palestina.

Neste período, o sistema persa era uma monarquia teocrática com quatro capitais. Os persas foram pioneiros em manter um alfabeto próprio para registros e um comércio organizado ao redor de uma moeda, o dárico, um dos primeiros registros de dinheiro do mundo.

A religião persa

A região tinha como religião dominante o zoroastrismo, fé fundada pelo mítico profeta Zaratustra. “Era uma crença maniqueísta, falando da disputa de uma divindade do bem contra o mal e que só habitaria o paraíso aqueles que praticassem boas ações para ser respeitado no além vida”, explica a historiadora Maria Clara Baccarin, do Rio de Janeiro, evidenciando a semelhança da fé daquele período com as religiões atuais.

Ainda existem seguidores de Zaratustra no mundo moderno, concentrados principalmente na Índia e no próprio Irã, onde a religião é minoritária, mas presente.

A Grande Mesquita de Isfahan, no Irã, é a maior do país e um dos pontos turísticos mais conhecidos. Foi construída ao longo de mais de mil anos

O Irã foi conquistado pelos árabes no século 7, durante a Idade Média europeia, mas o árabe nunca se impôs como língua oficial. A maioria da população fala o farsi, língua persa moderna.

“O Irã não é um país árabe, tampouco fala árabe”, explica Bruno Lima Rocha, professor de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul. “O país é formado por diversas etnias, religiões e idiomas, além de representar uma minoria dentro do contexto islâmico, que é o culto xiita”, destaca.

“A religião no Irã não é só prática espiritual”, diz Rocha. “Ela estrutura serviços e forma instituições. Não dá para comparar com modelos ocidentais”, afirma. Desde 1979, clérigos xiitas chamados aiatolás comandam estes diversos aspectos da vida local, por terem sido vitoriosos em uma revolução militar e cultural.

Identidade ariana

O nome Irã vem de “Airyan” (ariano ou o primeiro), que aparece em textos zoroastrianos e reflete a visão dos antigos povos iranianos sobre si mesmos. A mudança em 1935 foi também política. Reza Pahlavi buscava modernizar o país e afastá-lo de uma imagem colonial.

“A palavra ‘Pérsia’ era o nome usado no Ocidente”, explica o professor Antônio Ferreira. “Mas para os próprios iranianos, Irã já era o nome antigo. Foi mantido de forma interna por séculos, mesmo que o mundo continuasse a usar ‘Pérsia’”, conclui ele.

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