Cidade com quase 9 mil anos revela sociedade organizada por mulheres

Ao contrário de muitas sociedades antigas, um novo estudo mostra que, há 9 mil anos, as mulheres eram o centro da família em uma cidade da Turquia chamada Çatalhöyük. O levantamento foi publicado na revista científica Science nessa quinta-feira (26/6).

Pesquisadores analisaram o DNA de 131 esqueletos humanos enterrados dentro das casas da cidade pré- histórica, que existiu entre os anos 7.100  e 5.800 a.C. A equipe, liderada pelo geneticista Mehmet Somel, da Universidade Técnica do Oriente Médio, descobriu que os laços de parentesco mais fortes eram sempre ligados à mãe — ou seja, uma estrutura familiar e social matriarcal.

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Uma criança foi enterrada com uma mulher adulta no prédio 114 em Çatalhöyük

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Uma estatueta feminina encontrada em Çatalhöyük, na Turquia

Jason Quinlan/Divulgação

Em vez de os filhos seguirem o sobrenome ou o grupo do pai, como é mais comum atualmente, os moradores de Çatalhöyük viviam em casas onde mães, filhas e irmãs eram enterradas juntas, enquanto os homens da familia, ao crescer, iam viver em outras casas. Esse comportamento é chamado de matrilocalidade (quando o marido se muda para a casa da esposa, e não o contrário).

Outro dado que chamou atenção foi a quantidade de presentes encontrados nos túmulos das crianças. As meninas recebiam cinco vezes mais objetos simbólicos e decorativos do que os meninos. Isso indica que elas eram mais valorizadas desde pequenas.

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Apesar disso, o estudo também mostrou que homens e mulheres adultos tinham acesso semelhante à comida e espaço na casa. Segundo os cientistas, isso significa que, embora as mulheres fossem o centro das famílias, não havia divisão rígida de poder como observado em sociedades patriarcais.

Essa é a primeira vez que uma sociedade antiga desse tipo é identificada por meio de DNA humano. Segundo os autores, os resultados desafiam a ideia de que as primeiras comunidades agrícolas da história eram todas lideradas por homens.

A cidade de Çatalhöyük já era conhecida por ser uma das mais antigas do mundo, sendo escavada pela primeira vez há mais de 50 anos. Foram reveladas casas coladas umas nas outras, sem ruas: as pessoas entravam pelos telhados. Agora, com essas novas informações genéticas, ela também passa a ser reconhecida como um dos exemplos mais antigos de organização social baseada em mulheres.

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