Cientistas detectam “batimentos cardíacos” da Terra sob solo africano

Geólogos ingleses identificaram um fenômeno impressionante na África: batimentos vindos do interior da Terra sob a região de Afar, no nordeste da Etiópia. O acontecimento é explicado por pulsos rítmicos de material quente vindos do manto terrestre. O estudo foi publicado nessa quarta-feira (25/6) no periódico Nature Geoscience.

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Como os pulsos indicavam uma atividade cíclica e profunda no interior do planeta, os pesquisadores os compararam com os batimentos de um coração.

“A análise química sugere que a pluma de Afar está pulsando, como um batimento cardíaco. Esses pulsos parecem se comportar de forma diferente dependendo da espessura da placa e da velocidade com que ela se separa”, destaca o coautor do estudo, Tom Gernon, professor na Universidade de Southampton, na Inglaterra, em comunicado.

Os cientistas analisaram 130 amostras de rochas vulcânicas da Etiópia com menos de 2,6 milhões de anos. Em seguida, eles as compararam com rochas mais antigas a fim de entender as mudanças químicas ao longo do tempo.

Pluma de Afar mexe com continente africano

As amostras mostraram que Afar abriga uma pluma do manto – uma coluna de rocha quente que vem das profundezas do nosso planeta. Ao contrário de outras plumas, que geralmente surgem sob o oceano, a da região africana atravessa a crosta continental, sendo mais espessa e complexa.

Os pesquisadores descobriram que a movimentação da pluma está contribuindo para a abertura de fendas tectônicas e o início da formação de um novo oceano. O processo está dividindo lentamente o continente africano.

“Descobrimos que o manto abaixo de Afar não é uniforme ou estacionário – ele pulsa, carregando assinaturas químicas distintas. Esses pulsos ascendentes do manto parcialmente derretido são canalizados pelas placas em rifte acima. Isso é importante para a forma como pensamos sobre a interação entre o interior da Terra e sua superfície”, destaca a autora principal do estudo, Emma Watts, da Universidade de Swansea, na Inglaterra.

Os pulsos ocorrem devido às variações na composição do manto, que incluem material reciclado pela tectônica de placas e material primitivo, que não se alterou desde a formação da Terra.

O local analisado pelos pesquisadores fica na região de Afar

Próximos passos

Outros pulsos parecidos já foram detectados em outros locais do mundo, como nas Ilha Canárias, na Espanha. Agora, o próximo passo dos cientistas é entender melhor a velocidade desses fluxos e quais são os efeitos na superfície.

“Descobrimos que a evolução das ressurgências do manto profundo está intimamente ligada ao movimento das placas acima. Isso tem implicações profundas na forma como interpretamos o vulcanismo de superfície, a atividade sísmica e o processo de ruptura continental. Pesquisas seguintes podem ajudar a compreender melhor a questão”, finaliza o coautor do estudo, Derek Keir, também da Universidade de Southampton.

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