A luta por uma cura para o Alzheimer tem sido marcada por controvérsias e estagnação científica, afirma Donald Weaver, professor de química e diretor do Instituto de Pesquisa Krembil, da Universidade de Toronto.
Para ele, é hora de abandonar a visão tradicional centrada na proteína beta-amiloide, que há décadas domina a pesquisa sobre a doença, mas com poucos resultados clínicos.
“Caímos em uma rotina intelectual, concentrando-nos quase exclusivamente nos aglomerados de beta-amiloide, muitas vezes negligenciando outras explicações”, critica Weaver.
Outra visão sobre a doença
Segundo Weaver, seu laboratório está propondo uma nova abordagem: o Alzheimer como uma doença autoimune, não meramente cerebral.
“Acreditamos que o Alzheimer seja, na verdade, um distúrbio do sistema imunológico do cérebro”, explica.
A beta-amiloide, nessa visão, não é um vilão acidental, mas parte natural da defesa cerebral — que, ao reagir de forma equivocada, ataca as próprias células nervosas ao confundi-las com invasores, devido à semelhança entre suas membranas e as das bactérias.
“É um erro de identidade do sistema imunológico, que leva à destruição crônica de neurônios”, resume o pesquisador.
Novas estratégias para tratar o Alzheimer seriam necessárias
Esse mecanismo, segundo Weaver, transforma o Alzheimer em uma doença autoimune com características únicas, já que os tratamentos comuns para autoimunidade, como os esteroides, não funcionam no cérebro.
Por isso, ele acredita que novos caminhos precisam focar na regulação imunológica cerebral, em vez de repetir estratégias falhas.
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Weaver também destaca outras teorias emergentes, como as que associam a doença a disfunções mitocondriais, infecções cerebrais e até desequilíbrio de metais como ferro e cobre.
Para ele, a multiplicidade de hipóteses é algo positivo: “É gratificante ver novas ideias surgirem para uma doença tão devastadora.”
Diante dos mais de 50 milhões de pessoas vivendo com demência no mundo, o professor defende uma mudança de paradigma urgente:
“O Alzheimer é uma crise de saúde pública que exige ideias inovadoras. Precisamos compreender melhor a doença, suas causas e o que podemos fazer para tratá-la de forma eficaz.”
A versão original deste texto foi publicada no The Conversation.
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