Por muito tempo acreditou-se que a inflamação do corpo era um processo natural do envelhecimento e universal, tornando todas as pessoas mais suscetíveis a problemas de saúde como Alzheimer, diabetes e doenças cardíacas à medida que ficam mais velhas. Mas um novo estudo, publicado na revista Nature Aging nessa segunda-feira (30/6), sugere que essa suposição pode estar errada.
Ao analisar dados de 2.876 adultos residentes de quatro países, incluindo uma pequena população indígena da Amazônia, pesquisadores da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, observaram que a inflamação crônica do organismo está ligada ao estilo de vida industrializado.
“Os resultados apontam para uma incompatibilidade evolutiva entre nossos sistemas imunológicos e os ambientes em que vivemos atualmente. A inflamação pode não ser um produto direto do envelhecimento, mas sim uma resposta às condições industrializadas”, disse o principal autor do estudo, o professor Alan Cohen, em comunicado à imprensa.
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Envelhecimento em diferentes populações
Para fazer o estudo, os pesquisadores analisaram 19 proteínas associadas à inflamação em amostras de sangue de quatro populações. Duas delas levavam estilos de vida industrializados, vivendo na Itália e em Singapura. As outras duas viviam em comunidades indígenas não industrializadas — os Tsimane, da Amazônia boliviana, e os Orang Asli, da Malásia.
Os cientistas descobriram que os níveis de inflamação aumentavam com a idade nos grupos da Itália e de Singapura, e estavam associados a problemas de saúde como doença renal crônica.
Mas o mesmo não foi visto nos grupos indígenas. A inflamação não aumentou com a idade nem levou a problemas de saúde nessas populações. Os casos de inflamação mais elevada estavam relacionados a infecções, e não pela idade.
Os pesquisadores apontam que, de fato, a maioria das doenças crônicas — como diabetes, doenças cardíacas e Alzheimer — são raras ou praticamente inexistentes nas populações indígenas. O que significa que, mesmo quando os jovens indígenas apresentam perfis que parecem semelhantes aos de adultos mais velhos industrializados, eles não levam a consequências patológicas.
Para Alan Cohen, essas descobertas questionam a ideia de que a inflamação é ruim por si só. “Em vez disso, parece que ela — e talvez outros mecanismos de envelhecimento também — pode ser altamente dependente do contexto. Por um lado, isso é desafiador porque não haverá respostas universais para questões científicas. Por outro lado, é promissor, porque significa que podemos intervir e mudar as coisas”, disse Cohen.
Os autores defendem uma reavaliação de como o envelhecimento e a inflamação são medidos em diferentes populações e enfatizam a necessidade de ferramentas padronizadas e contextualizadas.
“Fatores como ambiente, estilo de vida — como prática de atividade física ou uma dieta com baixo teor de gordura — e infecção podem influenciar o envelhecimento do sistema imunológico. Compreender como esses elementos interagem pode ajudar a desenvolver estratégias de saúde global mais eficazes”, considerou Cohen.
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