Estudo liga extinção em massa à perda de florestas tropicais

Pesquisadores revelaram novas evidências sobre a mais grave extinção em massa da Terra, ocorrida há cerca de 252 milhões de anos. Segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (2) na Nature Communications, o colapso das florestas tropicais durante o evento conhecido como Extinção Permiano-Triássica foi o principal fator por trás do aquecimento global prolongado que se seguiu à catástrofe.

Até então, a teoria mais aceita atribuía o evento a intensas atividades vulcânicas na região da atual Sibéria — os chamados Trapps Siberianos —, que teriam gerado uma elevação drástica nas temperaturas globais. No entanto, permanecia sem resposta a razão pela qual as condições de efeito estufa extremo se mantiveram por aproximadamente cinco milhões de anos.

Vegetação teve papel central na recuperação climática

A pesquisa, liderada por cientistas da Universidade de Leeds e da Universidade Chinesa de Geociências em Wuhan, utilizou novas técnicas de análise de fósseis e dados geológicos para mapear as mudanças na produtividade das plantas durante o período da extinção em massa. Os resultados indicam que a devastação da vegetação tropical reduziu drasticamente a capacidade de sequestrar carbono, processo fundamental para a remoção de CO₂ da atmosfera.

Devastação vegetal reduziu a capacidade de sequestro de carbono, elevando os níveis de CO₂ na atmosfera terrestre (Imagem: chayanuphol / Shutterstock.com)

“Este é o único evento de alta temperatura na história da Terra em que a biosfera das florestas tropicais entra em colapso”, explicou Zhen Xu, pesquisadora da Universidade de Leeds e autora principal do artigo. “Depois de anos de trabalho de campo, análises e simulações, agora temos dados que sustentam essa hipótese.”

O estudo reforça a ideia de que o sistema climático da Terra possui pontos de inflexão que, uma vez ultrapassados, podem amplificar o aquecimento global, mesmo após a redução de emissões humanas.

Estudo reforça a ideia de pontos de inflexão no sistema climático da Terra (Imagem: demamiel62 / Shutterstock.com)

Estudo sobre extinção em massa é alerta para o presente e o futuro

A China possui os registros geológicos mais completos da extinção Permiano-Triássica, resultado de décadas de trabalho de três gerações de geólogos. Zhen Xu, a pesquisadora mais jovem da equipe, passou anos explorando regiões remotas da China para reunir dados fósseis que fundamentassem a pesquisa.

Desde 2020, Xu colabora com o professor Benjamin Mills, também da Universidade de Leeds, na simulação dos impactos climáticos do desaparecimento da vegetação tropical. As simulações confirmam que a queda no sequestro de carbono identificado nos fósseis está de acordo com o nível de aquecimento ocorrido.

“Há aqui um alerta sobre a importância das florestas tropicais atuais”, afirmou Mills. “Se o aquecimento rápido levar a um colapso semelhante, não devemos esperar que o clima retorne aos níveis pré-industriais, mesmo se cessarmos todas as emissões de CO₂.”

Pesquisadores consideram o estudo como um alerta para o cenário atual, que pode levar a um colapso semelhante (Imagem: Jhampier Giron M / Shutterstock.com)

Segundo o professor, o sistema climático pode entrar em um estado alterado de forma tão profunda que apenas escalas geológicas de tempo poderiam reverter seus efeitos, como já ocorreu no passado.

Leia mais:

O que é bioma e quantos existem no Brasil?

Vaquitas: quantas existem e por que elas estão à beira da extinção?

10 raças extintas de animais que poderiam voltar à vida

Tradição e inovação na paleontologia

Os coautores do estudo, Hongfu Yin e Jianxin Yu, destacam a importância de integrar métodos tradicionais com técnicas modernas, como modelagens numéricas e colaborações interdisciplinares. “A paleontologia precisa adotar novas abordagens para decifrar o passado e proteger o futuro”, afirmou Yin.

Yu completou: “Nosso trabalho deve ir além da academia. Trata-se de uma responsabilidade com toda a vida na Terra — hoje e no futuro. A história do planeta ainda está sendo escrita, e todos temos um papel nisso.”

O post Estudo liga extinção em massa à perda de florestas tropicais apareceu primeiro em Olhar Digital.