Pesquisadores identificaram um comportamento inusitado em orcas: elas oferecem “presentes” a humanos. A equipe analisou 34 interações registradas em oceanos de diferentes partes do mundo ao longo das últimas duas décadas. Esses casos podem revelar uma tentativa de aproximação entre esses animais e pessoas. 

O estudo, publicado no Journal of Comparative Psychology, revelou que as baleias levam comida para os humanos — variando entre peixes, invertebrados, mamíferos e algas. Os animais também esperam a resposta das pessoas antes de reagirem, descartando ou pegando de volta o “brinde”. Em sete dos casos, elas tentaram mais de uma vez oferecer o alimento novamente após os humanos terem recusado.

“As orcas costumam compartilhar comida umas com as outras – é uma atividade pró-social e uma forma de construir relacionamentos entre si. O fato de elas também compartilharem com humanos pode demonstrar seu interesse em se relacionar conosco” disse Jared Towers, da Bay Cetology, instituto no Canadá responsável pela pesquisa, em um comunicado.

Orcas buscam conexão com os humanos

Dos 34 casos analisados, em 21 as pessoas estavam em barcos, em 11 ocasiões elas estavam na água, nadando com as orcas, e em dois momentos estavam na costa. Alguns desses eventos foram captados em vídeos e fotos enviados ao grupo.

Em um registro nas redes sociais da Bay Cetology, é possível ver duas orcas oferecendo um pássaro para os pesquisadores. Segundo a equipe, um mergulhão-de-bico-fino morto pelas baleias foi recolhido pelo grupo e, após a análise, devolvido ao mar. Ao verem isso, as orcas pegaram os restos mortais da ave e ofereceram de volta aos cientistas.

Os pesquisadores estabeleceram critérios sólidos para o estudo. Nos casos analisados, a baleia teria de ter feito a aproximação por si e deixado o alimento na frente dos humanos.

A equipe concluiu que esse comportamento, embora incomum entre animais não domesticados, faz sentido. Segundo a pesquisa, orcas são seres sociais e inteligentes, que usam a comida como uma forma de construir relações entre indivíduos antes sem conexões.

“Oferecer itens aos humanos pode incluir simultaneamente oportunidades para as orcas praticarem comportamentos culturais aprendidos, explorarem ou brincarem e, assim, aprenderem, manipularem ou desenvolverem relacionamentos conosco”, escreveram os pesquisadores. 

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Presentes são fofos, mas é preciso ter cuidado

Esse comportamento pode representar um dos primeiros relatos de predadores selvagens usando presas para explorar o comportamento humano, segundo o estudo. Os casos podem ser evidências da convergência evolutiva do intelecto em primatas e golfinhos.

“Considerando as habilidades cognitivas avançadas e a natureza social e cooperativa desta espécie, presumimos que qualquer uma ou todas essas explicações e resultados de tal comportamento sejam possíveis”, escreveu a equipe.

Embora o comportamento seja considerado fofo, a equipe não encoraja qualquer interação com as baleias. “Podemos dizer que, depois que uma orca selvagem oferece um presente do mar, algo muda. A fronteira entre as espécies se esvai e o encontro se torna algo muito mais pessoal”, explicou a equipe em uma postagem nas redes sociais. 

Com o estudo, os pesquisadores buscam também conscientizar sobre os casos. “É por isso que compartilhar essas descobertas é importante para nós — não se trata apenas de ciência; trata-se de conexão, admiração e coexistência respeitosa”, concluíram os cientistas.

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