Mulher descobre câncer durante gravidez: “Comemoração virou pesadelo”

Com 4 meses e 3 semanas de gestação, Fabiana Maria Silveira Saccab, de 41 anos, sonhava com a chegada tranquila da filha Sara e preparava a comemoração do aniversário do filho mais velho, Davi, de 10 anos. Quando chegou no aeroporto dos Estados Unidos para celebrar o primogênito, ela recebeu a ligação que mudaria sua vida: exames de rotina haviam detectado uma leucemia linfoide aguda (LLA), tipo raro e agressivo de câncer no sangue.

“Quando eu recebi a notícia, fiquei desesperada. O que era para ser a comemoração do aniversário do meu filho se tornou um pesadelo”, relembra.

O choque foi ainda maior porque a doença trouxe à tona memórias dolorosas: aos 10 anos, Fabiana perdeu a própria mãe para o mesmo tipo de câncer. Agora, com a filha na barriga e o primogênito da mesma idade que ela tinha quando enfrentou a perda materna, precisou reunir forças para enfrentar a doença.

Desde o início da gravidez, Fabiana fazia exames mensais, todos normais até maio de 2024, quando os resultados mudaram de forma repentina. “Na minha primeira gravidez, passei mal, mas dessa vez, os sintomas estavam mais fortes. Sentia muito enjoo e uma sensação constante de desmaio”, conta.

Sem nem sair do aeroporto, Fabiana e a família deram meia-volta e voltaram ao Brasil. Ela foi internada no Hospital Samaritano Higienópolis, em São Paulo, onde passou por três ciclos de quimioterapia enquanto ainda estava grávida.

A filha, Sara, nasceu prematura em 3 de julho de 2024, com 29 semanas e 4 dias, e permaneceu por dois meses na UTI neonatal sob os cuidados de Teresa Maria Lopes de Oliveira Uras Belém, coordenadora da UTI Neonatal do Samaritano.

O que é leucemia linfoide aguda (LLA)

A leucemia linfoide aguda (LLA) é um câncer que afeta a produção de glóbulos brancos.
A doença pode comprometer a imunidade do paciente e, durante uma gravidez, o tratamento exige estratégias específicas.
A LLA pode causar uma série de sintomas, como fadiga, palidez, febre, perda de peso, dores ósseas e facilidade em ter hematomas ou sangramentos.
O tratamento para LLA geralmente envolve quimioterapia e, em alguns casos, transplante de medula óssea.

O desafio da equipe médica foi equilibrar a urgência do tratamento oncológico da mãe com a segurança do bebê em desenvolvimento. “Precisávamos garantir que Sara tivesse o melhor início de vida possível, mesmo nascendo com apenas 29 semanas e exposta a medicamentos citotóxicos. Cada decisão exigia análise conjunta e respeito à vida da mãe e filha”, explica a neonatologista.

Tratamento de um caso de câncer complexo

Fabiana, que inicialmente havia entrado em remissão, não pôde realizar o transplante logo após a primeira fase do tratamento por causa da gravidez. A doença retornou, e os médicos decidiram antecipar o parto para que ela pudesse iniciar um novo protocolo.

Sara nasceu com 1,2 kg e foi monitorada intensivamente por 60 dias, sem apresentar sequelas. Em outubro de 2024, Fabiana recebeu um transplante de medula óssea da irmã mais velha e, após quatro meses de internação, teve alta hospitalar.

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Casos como o de Fabiana são raros e complexos “A literatura mostra que a quimioterapia pode ser iniciada após o primeiro trimestre com relativa segurança para o feto, mas ainda há riscos. É fundamental o acompanhamento contínuo e multidisciplinar”, explica Teresa.

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Fabiana Saccab descobriu o câncer com 4 meses e 3 semanas de gestação

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Fabiana e Sara Saccab ficaram oito meses ao todo em tratamento contra o câncer

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Na foto: Phelipe, Fabiana, Davi e Sara Saccab

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Fabiana e Sara Saccab passaram juntas pelo tratamento de cãncer enquanto Sara ainda estava na barriga

Arquivo pessoal

O marido de Fabiana, Phelipe Saccab, cardiologista, acompanhou cada etapa de perto. “Minha filha fez quimioterapia dentro da barriga da mãe e não teve nenhuma sequela. Por mais difícil que seja a situação, a gente não pode perder a esperança”, afirma.

Hoje, a família celebra a recuperação. Sara, saudável, dá seus primeiros passos ao lado do irmão, Davi, que hoje tem 11 anos. Fabiana segue em acompanhamento oncológico, mas vive um dia de cada vez com gratidão. “Foi a maior luta da minha vida, mas olhar para a minha filha e para o meu filho todos os dias me faz acreditar que valeu a pena”, resume.

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