A infraestrutura invisível que alimenta a IA

A inteligência artificial já é considerada uma tecnologia estratégica para as principais potências do mundo. Não é por acaso que o governo dos Estados Unidos, por exemplo, gasta bilhões de dólares na expansão da indústria de IA no país.

Recentemente, um acordo firmado com a China deixou esta importância ainda mais evidente. Donald Trump permitiu a entrada de estudantes chineses em universidades norte-americanas em troca do fornecimento de minerais de terras raras.

Minerais fazem parte da disputa entre EUA e China (Imagem: Knight00730/Shutterstock)

Importância geopolítica das terras raras

Estes elementos químicos estão presentes na crosta terrestre, mas são difíceis de se encontrar em grandes quantidades.

Também chamados de metais raros, eles são amplamente usados para criação de ímãs superpotentes, baterias de carros elétricos, turbinas e até telescópios espaciais.

Hoje, a extração destes recursos está concentrada em apenas alguns países, sendo a China responsável por mais de 70% deste importante mercado.

Por outro lado, os EUA têm um acesso limitado aos recursos.

Como a demanda tende a aumentar ainda mais, uma corrida pelos minerais começou.

O presidente Donald Trump, por exemplo, fechou um acordo com a Ucrânia envolvendo os metais raros.

Ao mesmo tempo, a Groenlândia conta com um importante suprimento destes recursos.

E não é coincidência que a Casa Branca esteja de olho na região, com o republicano inclusive ameaçando tomar o território militarmente.

A importância destes recursos também pode ser verificada no mais recente acordo entre EUA e China.

O compromisso estabelece a manutenção de tarifas de 55% dos Estados Unidos sobre produtos chineses e de apenas 10% por parte de Pequim sobre os bens norte-americanos.

Mas o ponto mais relevante é a garantia por parte da China do fornecimento destas matérias-primas essenciais para os EUA.

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Metais são considerados estratégicos para o desenvolvimento de alguns países (Imagem: Joaquin Corbalan P/Shutterstock)

Relação com a inteligência artificial

Em artigo publicado no portal The Conversation, os professores João Stacciarini, da Universidade Federal de Goiás (UFG), e Ricardo Assis Gonçalves, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), analisam o papel das terras raras e de outros minerais estratégicos para a criação da infraestrutura necessária para o desenvolvimento da inteligência artificial. É o caso, por exemplo, dos cerca de 12 mil data centers em operação atualmente no mundo.

A manufatura desse ecossistema – composto por servidores, redes, unidades de processamento, sistemas de armazenamento e refrigeração, fontes de energia, sensores e cabeamentos- exige uma ampla variedade de minerais e metais, em sua maioria extraídos em diferentes regiões do Sul Global. Entre os mais relevantes estão gálio, germânio, silício metálico, tântalo, metais do grupo da platina, cobre, terras raras, prata e ouro, geralmente purificados em altos graus para atender às exigências eletrônicas, ópticas e magnéticas dos equipamentos.

Artigo publicado no The Conversation

Outro aspecto ligado ao desenvolvimento da inteligência artificial é o elevado consumo de energia. Devido a características intrínsecas, como o uso de redes neurais complexas e a movimentação de vastos conjuntos de dados entre milhares de componentes físicos, as aplicações de IA consomem muito mais eletricidade do que serviços digitais convencionais. Para atender esta crescente demanda, grandes empresas de tecnologia têm investido em fontes renováveis, como solar e eólica.

Desenvolvimento da inteligência artificial depende de fatores que vão além da tecnologia (Imagem: Anggalih Prasetya/Shutterstock)

No entanto, essas fontes também dependem fortemente de minerais críticos, devido à menor densidade energética, à vida útil reduzida e às dificuldades de reciclagem. Uma usina eólica terrestre pode exigir até nove vezes mais minerais do que uma usina a gás, e projetos offshore, até quinze vezes mais. O mesmo ocorre com os painéis solares, cuja produção requer uma variedade de minerais estratégicos. Para ilustrar, atender à demanda prevista de 35 GW dos data centers dos EUA até 2030 exigiria cerca de 50 milhões de painéis solares – evidenciando a intensificação da pressão sobre a extração mineral.

Artigo publicado no The Conversation

Esse cenário revela que a expansão da inteligência artificial impõe desafios que vão muito além do campo da inovação tecnológica, envolvendo dimensões ambientais, sociais, econômicas e geopolíticas. E este entendimento é fundamental se quisermos entender para onde nossa tecnologia está avançando, bem como quais são os obstáculos esperados para o futuro.

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