Vaca é usada por cientistas para atrair tubarões em águas profundas

Calma, o título pode dar a entender uma crueldade com a pobre da vaca em nome da ciência, mas não é bem por aí. Na verdade, o animal estava morto, e sua carcaça foi usada por pesquisadores como isca para atrair tubarões raros que habitam as profundezas do Oceano Pacífico.

A experiência foi realizada no Mar da China Meridional, perto da Ilha de Hainan. Inicialmente, a equipe pretendia observar o que acontece quando morre um animal marinho de grande porte, como a baleia, e a carcaça chega ao fundo do mar.

Para simular essa situação, eles jogaram uma carcaça de vaca a 1.629 metros de profundidade. O que não esperavam era a visita de oito tubarões-dorminhocos-do-Pacífico, animais extremamente difíceis de encontrar. Então, o experimento se tornou uma excelente oportunidade para investigar a espécie, de nome científico Somniosus pacificus. Os resultados do estudo foram publicados na revista Ocean-Land-Atmosphere Research. 

Tubarões respeitam “fila da merenda”

As imagens gravadas revelaram um comportamento curioso: os tubarões pareciam formar uma fila para se alimentar. Aqueles que estavam na frente davam lugar aos que chegavam depois, como se respeitassem uma ordem. Para os pesquisadores, isso mostra um tipo de organização até então desconhecida nesses animais.

O estudo também apontou diferenças no comportamento de acordo com o tamanho dos tubarões. Os maiores, com mais de 2,7 metros, foram os primeiros da fila e mais agressivos ao se aproximarem da carcaça, enquanto os menores, que vinham na sequência, agiram com mais cautela, nadando em círculos antes de atacar o alimento.

Tubarão-dorminhoco-do-Pacífico. Crédito: National Oceanic and Atmospheric Administration

“Esse comportamento sugere que a prioridade de alimentação é determinada pela intensidade competitiva individual, mesmo em ambientes de águas profundas, refletindo uma estratégia de sobrevivência adequada para forrageamento não solitário entre os tubarões-dorminhocos do Pacífico”, disse em um comunicado o líder do estudo, Han Tian, ​​da Universidade Sun Yat-sen e do Laboratório de Ciência e Engenharia Marinha do Sul de Guangdong, na China.

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Outro ponto interessante foi a observação de um mecanismo de proteção dos olhos durante a alimentação. Como essa espécie não tem a membrana protetora comum em outros animais, como gatos, os pesquisadores acreditam que eles retraem os olhos para evitar danos.

Durante a gravação, também foram identificados parasitas nos corpos dos tubarões, provavelmente copépodes, e a presença de outros animais, como peixes-caracol e anfípodes. 

Localização do Mar da China Meridional, onde o estudo foi realizado. Crédito: Reprodução Reddit (Luminessence57)

Mudanças climáticas podem ter forçado espécie a migrar

Parentes próximos dos tubarões-da-Groenlândia, os tubarões-dorminhocos, até então, eram registrados apenas no Pacífico Norte, do Japão ao Alasca, e em algumas áreas do sul, como Palau e Ilhas Salomão. Com o novo registro, mais ao sul, surgiu a dúvida: será que a região já fazia parte do território natural desses tubarões ou eles estão migrando por causa das mudanças climáticas?

Segundo os pesquisadores, ainda há muito a se descobrir sobre esses animais misteriosos. E a vaca, neste caso, ajudou – sem sofrimento – a trazer à tona informações valiosas sobre o comportamento e a distribuição de uma espécie quase invisível.

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