A decisão do governo dos Estados Unidos de elevar para 50% a tarifa de importação sobre produtos brasileiros provocou reações imediatas de entidades empresariais no Brasil, como a Confederação Nacional da Indústria e a Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil).
A CNI classificou a medida como injustificada do ponto de vista econômico e defendeu a intensificação do diálogo com a administração do presidente norte-americano, Donald Trump. Para o órgão, a prioridade deve ser “preservar a relação comercial histórica e complementar entre os países”.
Em nota publicada nesta quinta-feira, 10, o presidente da entidade, Ricardo Alban, afirmou que “não existe qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho, elevando as tarifas sobre o Brasil do piso ao teto”. Segundo ele, “os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo norte-americano”.
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A elevação das tarifas afeta diretamente a competitividade de cerca de 10 mil empresas brasileiras que exportam para os EUA. Os EUA ocupam a terceira posição entre os principais parceiros comerciais do Brasil e são o principal destino das exportações da indústria de transformação nacional.
A CNI realizou uma consulta entre junho e o começo de julho com empresas que exportam bens e serviços aos EUA. Os resultados preliminares demonstraram que um terço das empresas respondentes registrou impactos negativos nos negócios, mesmo sob a tarifa básica anterior de 10% e demais medidas setoriais.
Além das consequências diretas sobre as exportações, a entidade destaca o risco de prejuízos à estrutura produtiva dos dois países. “A forte integração econômica entre os dois países é evidenciada pelas 3,6 mil empresas norte-americanas com investimentos no Brasil e pelas 2,9 mil empresas brasileiras com presença nos EUA”, informou a CNI.
Indústria destaca integração entre os dois países
A relação comercial entre Brasil e EUA é descrita como de “forte complementariedade econômica”. Dados da CNI demonstram que, na última década, os insumos produtivos representaram em média 61,4% das exportações brasileiras para os EUA e 56,5% das importações.
“Sempre defendemos o diálogo como o caminho mais eficaz para resolver divergências e buscar soluções que favoreçam ambos os países”, afirmou Alban. “É por meio da cooperação que construiremos uma relação comercial mais equilibrada, complementar e benéfica entre o Brasil e os EUA.”
A instituição também contesta a justificativa apresentada por Washington. Segundo a CNI, “ao contrário da afirmação do governo dos EUA, o país norte-americano mantém superávit com o Brasil há mais de 15 anos”. De acordo com os dados levantados, o superávit dos EUA no comércio de bens com o Brasil chegou a US$ 91,6 bilhões na última década.
Quando incluído o comércio de serviços, o saldo norte-americano atinge US$ 256,9 bilhões. A entidade acrescenta que, em 2023, a tarifa efetiva aplicada pelo Brasil aos produtos norte-americanos foi de 2,7%, inferior à tarifa nominal de 11,2% assumida na Organização Mundial do Comércio (OMC).
A Amcham também se manifestou oficialmente. Em nota, declarou “profunda preocupação com a decisão anunciada pelo governo dos EUA de impor uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras”. Para a entidade, a medida tem “potencial para causar impactos severos sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas entre os dois países”.
A Amcham recordou que, em 2024, o saldo comercial de bens e serviços favoreceu os EUA em US$ 29,2 bilhões, segundo dados oficiais daquele país. A entidade destacou que o comércio bilateral é “fortemente complementar e tem gerado benefícios concretos para ambos os lados”.
O impacto da medida também se traduz em números sociais. Em 2024, segundo dados da CNI, para cada R$ 1 bilhão exportado ao mercado norte-americano, foram gerados 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção no Brasil. A imposição da nova tarifa, portanto, interfere diretamente nos níveis de emprego e renda da economia brasileira.
As entidades empresariais aguardam uma resposta diplomática do governo brasileiro e pedem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que busque alternativas de negociação direta com o governo norte-americano. O objetivo, segundo as entidades, é restaurar um ambiente de confiança e previsibilidade que preserve a parceria estratégica entre os dois países.
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