Brasileiros descobrem quatro novas espécies de cogumelos na Antártica

Uma equipe de pesquisadores brasileiros fez uma descoberta notável em um dos ambientes mais extremos da Terra: a existência de quatro novas espécies de cogumelos na Antártica. A revelação expande o conhecimento sobre a biodiversidade em ecossistemas polares e reforça a importância de monitorar essas áreas sensíveis diante das mudanças climáticas globais.

O estudo, publicado na renomada revista científica Mycological Progress em 27 de junho, focou em fungos do gênero Omphalina encontrados na Península de Byers, na Ilha Livingston. Para confirmar que se tratavam de espécies inéditas, os cientistas combinaram análises morfológicas detalhadas com sequenciamento avançado de DNA.

As novas espécies foram batizadas de Omphalina (família Omphalinaceae): Omphalina deschampsiana, Omphalina ichayoi, Omphalina frigida e Omphalina schaeferi.

Os fungos do gênero são conhecidos por viver em ambientes frios e, muitas vezes, formam relações simbióticas com musgos e gramíneas. No caso antártico, as espécies provavelmente desempenham um papel na decomposição da matéria orgânica e no ciclo de nutrientes, processos fundamentais para a manutenção da vida em solos tão empobrecidos e inóspitos como os da Antártica.

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Um dos grandes destaques é a O. deschampsiana, nomeada devido à sua associação exclusiva com a grama Deschampsia antarctica, umas das duas únicas plantas com flores nativas de todo o continente ártico. Essa conexão revela uma delicada e até então desconhecida interação ecológica.

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Omphalina ichayoi – Um dos típos inéditos de cogumelos encontrados na Antártica

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Omphalina frigida é outro tipo de fungo encontrado na Antártica em expedição feita em 2023

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Outra variação dos tipos encontrados na Antártica foi o fungo Omphalina schaeferi, do gênero Omphalina

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Omphalina deschampsiana foi o nome escolhido para especificar um dos novos tipos de cogumelos encontrados em solo ártico

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A pesquisa é fruto de uma colaboração entre Laboratório de Taxonomia de Fungos da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no Rio Grande do Sul, e os projetos Terrantar e Permaclima, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais.

Segundo Fernando Bertazzo, autor principal do estudo, a descoberta vai além do catálogo de novas espécies. “A presença do Brasil na Antártica mostra que fazemos parte de um esforço global para entender e proteger um continente que afeta o clima, os oceanos e, no fim das contas, a vida de todos nós. Investir em ciência lá é investir em ciência no nosso futuro aqui”, afirma.

O sentimento de pioneirismo e a relevância do trabalho em um local tão remoto também foram destacados pelo pesquisador. “Descobrir uma nova espécie é sempre emocionante, mas fazer isso em um dos lugares mais inóspitos do planeta é a maior prova de que ainda sabemos muito pouco sobre a vida na Terra. Cada fungo que encontramos na Antártica carrega lições preciosas sobre evolução, resiliência e adaptação. A natureza nos lembra que a vida sempre encontra um jeito de persistir, mesmo onde parece impossível”, conclui Bertazzo.

Além de expandir o conhecimento sobre a biodiversidade antártica, a descoberta pode ter implicações futuras para a biotecnologia. Fungos de ambientes extremos costumam produzir enzimas e compostos bioativos adaptados a condições de frio intenso, o que os torna potenciais fontes de novos medicamentos ou processos industriais sustentáveis.

A documentação dessas espécies também é fundamental para avaliar como as mudanças climáticas podem afetar a microbiota do continente e, por consequência, todo o delicado equilíbrio ecológico local.

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