A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta segunda-feira (14/7) a recomendação do lenacapavir injetável como forma de prevenir o HIV. A injeção semestral tem eficácia igual ou superior aos 99% dos comprimidos diários atualmente distribuídos no Brasil como profilaxia pré-exposição (PrEP).
O anúncio foi feito durante a 13ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids, realizada em Kigali, Ruanda. O lenacapavir é o primeiro antirretroviral injetável e, para a OMS, ele pode popularizar a adesão à PrEP.
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“É a melhor opção disponível enquanto aguardamos uma vacina contra o HIV. A OMS está comprometida em trabalhar com países e parceiros para garantir que essa inovação chegue às comunidades o mais rápido e seguro possível”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Segundo ele, com apenas duas aplicações ao ano, o produto amplia as possibilidades de proteção para populações com dificuldades no uso de comprimidos diários. Há estudos que mostram que até uma única aplicação já poderia ser eficaz.
O que é o HIV e sua diferença para a aids?
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um microrganismo que ataca o sistema imunológico. Quando não é tratado, ele pode evoluir para a aids (síndrome da imunodeficiência adquirida), que representa o estágio mais avançado da infecção pelo HIV.
Embora não exista a cura para a aids, o tratamento antirretroviral pode controlar a infecção, permitindo que pessoas vivendo com HIV tenham uma vida longa e saudável.
O tratamento correto pode fazer com que o paciente atinja a carga viral indetectável para o HIV, ou seja, tão baixa que não pode ser detectada por testes padrão. Nesse caso, a pessoa também não transmite o vírus.
O HIV é transmitido principalmente através de fluidos corporais específicos, durante o sexo sem proteção, compartilhamento de seringas e de mãe para filho durante o parto, quando não for bem assistido.
Beijos, suor, ou qualquer outra forma de contato íntimo, incluindo o sexo feito com preservativo, não transmite o HIV.
O SUS disponibiliza testes rápidos para o HIV e também o tratamento preventivo com a profilaxia pré-exposição (PrEP), com o uso de um remédio diário. Procure um serviço de saúde e informe-se para saber se você tem indicação para PrEP.
Acesso simplificado contra o HIV
A recomendação da OMS inclui também mudanças no protocolo de testagem. Agora, testes rápidos podem ser usados antes da aplicação do lenacapavir. Com a simplificação, as injeções poderão ser oferecidas fora de ambientes hospitalares, passando a ser administradas em clínicas, farmácias e serviços de saúde.
O remédio é especialmente indicado para profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas, pessoas trans, presos e adolescentes que estão iniciando sua vida sexual.
A OMS pede que países e organizações internacionais comecem a implementar o lenacapavir de forma imediata. Além da aplicação, será necessário monitorar a aceitação, adesão e impacto da medida nos programas nacionais de prevenção.
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HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. O causador da aids ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida
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A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids
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Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico
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O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas
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O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais
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Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
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A empresa de biotecnologia Moderna, junto com a organização de investigação científica Iavi, anunciou no início de 2022 a aplicação das primeiras doses de uma vacina experimental contra o HIV em humanos
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O ensaio de fase 1 busca analisar se as doses do imunizante, que utilizam RNA mensageiro, podem induzir resposta imunológica das células e orientar o desenvolvimento rápido de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAb) contra o vírus
Arthur Menescal/Especial Metrópoles9 de 13
Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenir o HIV em grupos de risco, inclusive para pessoas que mantém relações sexuais com indivíduos com o vírus
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O Apretude funciona com duas injeções iniciais, administradas com um mês de intervalo. Depois, o tratamento continua com aplicações a cada dois meses
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O PrEP HIV é um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) feito especificamente para prevenir a infecção pelo vírus da Aids com o uso de medicamentos antirretrovirais
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Esses medicamentos atuam diretamente no vírus, impedindo a sua replicação e entrada nas células, por isso é um método eficaz para a prevenção da infecção pelo HIV
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É importante que, mesmo com a PrEP, a camisinha continue a ser usada nas relações sexuais: o medicamento não previne a gravidez e nem a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia e sífilis, por exemplo
Keith Brofsky/Getty Images
Avanços no tratamento
A organização também atualizou suas diretrizes de tratamento. Pela primeira vez, a OMS recomendou o uso de cabotegravir e rilpivirina injetáveis para quem já alcançou supressão viral com terapia oral.
Esse regime é voltado para quem enfrenta dificuldades na adesão ao tratamento com comprimidos diários. “A ciência hoje já oferece as ferramentas para erradicar a aids como ameaça à saúde pública. O que precisamos agora é de uma implementação ousada dessas recomendações, fundamentadas na equidade e impulsionadas pelas comunidades”, concluiu a diretora Meg Doherty, do programa global de HIV da OMS.
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