Patógenos antigos em DNA revelam origem de doenças há 6,5 mil anos

Doenças infecciosas transmitidas de animais para humanos, como a Covid-19, podem ter começado a circular muito antes do que se imaginava. Um estudo publicado na revista científica Nature, na quarta-feira (9/7), encontrou sinais genéticos de 214 patógenos antigos em restos mortais de pessoas que viveram na Eurásia antiga até 37 mil anos atrás.

Segundo os pesquisadores, essa é a evidência mais antiga já registrada de doenças zoonóticas, que passam de animais para humanos.

As infecções teriam começado a se espalhar cerca de 6,5 mil anos atrás, um período marcado por mudanças profundas no modo de vida humano, como o surgimento da agricultura e a domesticação de animais.

“A transição para a agricultura e a pecuária abriu as portas para uma nova era de doenças. Agora o DNA mostra que isso aconteceu há pelo menos 6,5 mil anos. Essas infecções não causaram apenas doenças. Elas podem ter contribuído para colapsos populacionais, migrações e até adaptações genéticas ao longo do tempo”, afirma Eske Willerslev, professor da Universidade de Copenhague e da Universidade de Cambridge, que liderou a pesquisa, em comunicado.

Peste milenar

Os pesquisadores analisaram amostras de DNA extraído de ossos e dentes de mais de 1,3 mil restos mortais, alguns com até 37 mil anos de idade.

Entre os 214 patógenos identificados, um dos achados mais impressionantes é o vestígio genético mais antigo da Yersinia pestis, bactéria responsável pela peste bubônica. A amostra tem cerca de 5,5 mil anos. Séculos depois, durante a Idade Média, essa doença mataria milhões de pessoas na Europa.

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Os dados também sugerem que o contato frequente com animais domesticados, combinado com grandes migrações de pastores das estepes da região do Mar Negro, pode ter sido decisivo para espalhar as infecções.

Desenvolvimento de vacinas futuras

Os cientistas acreditam que entender como essas doenças surgiram e evoluíram ao longo do tempo pode ajudar a preparar melhor a sociedade para enfrentar novos surtos no futuro.

“Se compreendermos o que aconteceu no passado, podemos nos antecipar ao que está por vir, já que muitas doenças infecciosas emergentes continuam se originando em animais”, diz Martin Sikora, professor associado e primeiro autor do estudo.

Willerslev complementa que certas mutações que ajudaram vírus e bactérias a se espalhar no passado ainda podem reaparecer.

“Esse conhecimento é importante para o desenvolvimento de vacinas. Ele permite verificar se as vacinas atuais oferecem proteção suficiente ou se precisamos criar novas, considerando essas mutações.”

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