Pesquisadores identificaram que ouvir o som de risadas é capaz de deixar os bonobos mais otimistas. Estes macacos, considerados os parentes vivos mais próximos dos humanos, tiveram alterações de comportamento que indicaram maior propensão a emoções positivas quando escutaram os risos.
O estudo foi conduzido por uma equipe internacional liderada por cientistas da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e publicado na revista Scientific Reports em 26 de junho.
Na pesquisa, os cientistas gravaram vocalizações semelhantes a gargalhadas que foram dadas durante brincadeiras coletivas dos bonobos. Depois, esses sons eram reproduzidos quando eles já estavam isolados, o que, segundo o estudo, alterou o comportamento dos animais e levou a mudanças cognitivas.
O trabalho foi realizado com quatro bonobos, entre eles Kanzi, animal conhecido por ter aprendido a usar símbolos da língua estadunidense de sinais para se comunicar. Ele morreu recentemente, após décadas participando de estudos.
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Testes e caixas de recompensa
Os cientistas usaram um teste de viés cognitivo. A técnica é comum na psicologia animal para avaliar o humor com base em decisões diante de incertezas. O método verifica se os animais interpretam sinais ambíguos de forma otimista ou pessimista.
Os bonobos foram treinados para distinguir entre caixas pretas, que sempre ofereciam alimentos, e brancas, que nunca traziam recompensa. Em seguida, os pesquisadores tocaram sons de risos ou áudios neutros, apresentando caixas cinzas, desconhecidas.
Quando estavam mais propensos a se aproximar das caixas cinzas, os bonobos revelavam otimismo. Segundo os autores, o riso induziu um estado emocional positivo, levando os animais a esperar por resultados favoráveis diante do desconhecido.
“Pense nisso como o efeito dos óculos cor-de-rosa. Depois de ouvir risadas, os bonobos agiram como se esperassem uma guloseima, mesmo sem garantias”, disse a bióloga Sasha Winkler, da Universidade de Indiana, líder do estudo, em comunicado à imprensa.
Reação dos bonobos ao riso sugere que a risada pode ser anterior à linguagem
Riso anima também os humanos
O estudo é o primeiro a demonstrar que o riso de grandes primatas afeta sua cognição. A resposta emocional ao som positivo parece ter raízes profundas. Os autores acreditam que isso aponta para uma base evolutiva comum entre humanos e outros macacos.
Erica Cartmill, professora de antropologia e coautora da pesquisa, afirmou: “Este é o primeiro estudo que mede uma mudança de afeto positivo em primatas não humanos após uma intervenção breve.”
As vocalizações semelhantes a risos, emitidas por bonobos, chimpanzés e outros grandes primatas, provavelmente evoluíram de sons emitidos em brincadeiras por ancestrais comuns. Isso indica que o riso humano pode ter origem pré-linguística.
“Nossos resultados sugerem que o riso em outros primatas compartilha não apenas semelhanças filogenéticas e comportamentais com o riso humano, mas também talvez os mesmos fundamentos cognitivo-emocionais”, afirmou Winkler.
Essa resposta emocional, segundo as pesquisadoras, está ligada ao contágio emocional, um mecanismo que antecede a empatia. Ouvir risadas pode influenciar estados internos e comportamento social, sugerindo um papel na cooperação e comunicação.
“Nossas emoções influenciam muitos aspectos da cognição, como memória e tomada de decisões. Queríamos entender como emoções positivas afetam essas funções em primatas”, conclui Cartmill.
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