Soneca aquática: entenda se os peixes dormem e como eles descansam

Quando o assunto é sono, a primeira imagem que vem à cabeça envolve olhos fechados, silêncio e completa imobilidade. Mas, animais que vivem em constante movimento e sequer tem pálpebras, como os peixes, também precisam dormir? A resposta é sim, mas o descanso deles é bem diferente da forma que conhecemos.

Leia também

Ciência

Ilhas remotas brasileiras e britânicas têm 44 espécies de peixes raros

Ciência

Pesca comercial: peixes têm 10 minutos de dor intensa antes de morrer

Ciência

Mudança climática e peixes da Amazônia: como não perder biodiversidade

Brasil

Pesca além da capacidade natural de reprodução atinge 29% dos peixes

Como a maioria não possui pálpebras, os peixes não fecham os olhos na hora de dormir e nem roncam. Na verdade, os animais aquáticos entram em um estado de repouso em que o corpo permanece em modo de economia de energia: os movimentos desaceleram, a frequência respiratória cai e o metabolismo reduz.

“Peixes não fecham os olhos e se deitam para dormir, eles apenas reduzem sua atividade física e metabólica, diminuem seus movimentos e batimentos cardíacos, minimizando o metabolismo para descansar. Existem peixes que conseguem ficar imóveis, com as guelras quase sem movimento algum”, explica o médico veterinário João Paulo Nunes, da clínica veterinária Saúde Animal, em Goiás.

Alerta mesmo dormindo

Mesmo tirando uma soneca, os peixes não perdem totalmente a consciência. Pelo contrário, eles permanecem em alerta parcial, prontos para reagir diante de um predador ou uma ameaça. O estado de vigília parcial é crucial para a sobrevivência, especialmente em ambientes onde o risco é constante.

“Muitas espécies escolhem locais mais seguros e abrigados para descansar, como entre rochas, vegetação aquática ou no fundo, justamente para se protegerem de predadores durante esse período”, destaca a médica veterinária Bárbara Lopes, da clínica VetSmart, em Brasília.

Algumas espécies de peixe utilizam outros artifícios para proteção. Por exemplo, o peixe-papagaio produz um muco ao redor do corpo durante o sono, servindo como uma camada protetora contra parasitas e predadores. Já certos tubarões e outros peixes conseguem descansar utilizando apenas um dos hemisférios cerebrais, mantendo a outra metade em alerta. O fenômeno é conhecido como sono uni-hemisférico.

Temperatura da água e ambiente influenciam

A temperatura da água tem impacto direto sobre o metabolismo dos peixes. Em águas mais frias, eles ficam menos ativos e podem entrar em estado parecido com a hibernação, conhecido como torpor. Já em ambientes mais quentes, o metabolismo acelera e os períodos de descanso tendem a ser mais curtos e fragmentados.

Outros fatores ambientais, como os níveis de oxigênio, a presença de esconderijos e a qualidade geral da água, também podem influenciar na capacidade dos peixes descansarem de forma eficaz. Espécies menores costumam procurar locais mais seguros para descansar, já peixes maiores ou predadores podem apenas reduzir o ritmo da natação.

“Em resumo, a temperatura da água e a qualidade do ambiente são fatores cruciais para o descanso dos peixes. Em aquários, por exemplo, é importante manter condições ideais para garantir o bem-estar e a saúde dos peixes, permitindo que eles descansem adequadamente e recuperem suas energias”, diz Nunes.
Tutores de peixes em aquários devem tomar cuidado com o sono dos bichinhos

Relógio biológico e importância do sono

Assim como em humanos, a maioria dos peixes possui relógio biológico, um processo conhecido como ritmo circadiano, que é uma espécie de relógio interno regulado pela luz e escuridão. Esse ciclo define os períodos de atividade e descanso ao longo do dia.

Respeitar o ritmo circadiano é uma medida essencial para criadores de peixes em aquários. Uma iluminação constante ou inadequada pode afetar o comportamento, a alimentação e até a coloração dos animais. “Alguns bettas chegam a mudar ligeiramente a coloração durante o repouso, ficando mais pálidos — o que é totalmente normal e faz parte do ciclo natural de descanso”, exemplifica Bárbara.

Biologicamente, o sono para os animais aquáticos é essencial. Nesses momentos, os peixes têm menos tensão muscular, menor frequência cardíaca e resposta a estímulos, sendo importante para processos, como:

Consolidação da memória;
Crescimento e regeneração celular;
Regulação metabólica;
Recuperação física e imunológica.

“O sono em peixes é mais do que apenas um período de descanso. É um processo biológico vital para a saúde e o bem-estar desses animais”, finaliza o veterinário.

Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!