Mesmo estando a 150 milhões de quilômetros da Terra, o Sol é uma das estrelas mais estudados pela ciência. Mas, se nunca enviamos uma sonda até sua superfície, e muito menos colocamos um astronauta lá, como é possível saber do que ele é feito?
Em um primeiro olhar, pode parecer impossível resolver essa questão. Porém, a engenhosidade cientifica usa saberes da física e tecnologia de ponta para descobrir os elementos que compõem o astro-rei.
O segredo está na análise da luz. Pesquisadores utilizam o método conhecido como espectroscopia para dividir a luz do Sol em linhas com comprimentos de onda específicos – cada um correspondendo a um elemento químico diferente. É como se cada átomo deixasse uma impressão digital luminosa.
Ao comparar essas linhas com padrões conhecidos em laboratório, os cientistas conseguem dizer quais elementos estão presentes no Sol, e em quais proporções.
A maioria da massa solar é formada por hidrogênio (cerca de 78,5%) e hélio (19,7%). Os outros 2% incluem oxigênio, carbono, nitrogênio, ferro e outros elementos mais pesados, segundo um artigo do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Hélio foi descoberto no Sol antes de ser identificado na Terra
Em 1868, os astrônomos Pierre Janssen e Norman Lockyer estudavam a luz do Sol durante um eclipse quando identificaram uma linha espectral amarela incomum em seus equipamentos. Era a assinatura de um elemento até então desconhecido, que logo foi batizado de hélio, uma homenagem a Hélios, o deus grego do Sol.
Os pesquisadores buscaram por anos encontrar um sinal correspondente com experimentos, mas não conseguiram. Embora sem poderem provar sua descoberta, a dupla ganhou reconhecimento e, em 1887, foi exaltada pelo cientista americano John William Draper nos discursos de inauguração da Sociedade Americana de Química.
O hélio só foi encontrado na Terra quase 25 anos depois, em 1892, pelo físico italiano Luigi Palmieri, que detectou o composto em sua forma gasosa enquanto analisava a lava do Monte Vesúvio. Esse foi um marco na história da ciência: a primeira vez que um elemento foi encontrado no espaço antes de ser descoberto na Terra.
Novas tecnologias aprimoraram o estudo do astro-rei
Desde os tempos de Janssen e Lockyer, a tecnologia avançou muito. Hoje, espectrômetros modernos conseguem identificar elementos com altíssima precisão usando sensores digitais. Além disso, novas ferramentas ajudam a complementar a análise da luz visível.
Os radiotelescópios observam o Sol em frequências como micro-ondas e ondas de rádio, revelando processos físicos que não são visíveis ao olho humano. O Telescópio Solar Daniel K. Inouye (DKIST), por exemplo, é um dos mais refinados equipamentos utilizados para estudar os eventos solares.
Já as sondas espaciais, como a Parker Solar Probe, da NASA, e a Solar Orbiter, da Agência Espacial Europeia ESA, viajam próximas ao Sol para medir diretamente partículas do vento solar e campos magnéticos.
Essas missões não pegam amostras ou pousam na estrela, o que seria impossível. Mas, elas ajudam a validar os modelos teóricos e melhorar nossa compreensão sobre o que acontece na atmosfera do astro-rei.
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Entender o Sol é fundamental para a humanidade
Ao conhecer os elementos presentes no Sol, conseguimos entender como a fusão nuclear transforma hidrogênio em hélio. Esse processo libera a energia que aquece o nosso planeta e permite que a vida aconteça.
A composição química da superfície solar também explica a formação de fenômenos como explosões solares e ejeções de massa coronal. Essas erupções podem atingir a Terra e interferir em satélites, redes de energia, GPS e comunicações. Entender sua origem ajuda a prever e reduzir seus impactos.
O astro-rei também serve como modelo para estudar outras estrelas. Ao compará-lo com astros semelhantes, é possível estimar a idade e evolução de corpos celestes. A química solar ainda guarda pistas sobre o passado do cosmos. A proporção entre elementos leves e pesados ajuda a reconstituir o que aconteceu logo após o Big Bang, segundo um artigo do Instituto de Geociências da USP.
Por isso, entender a composição do Sol vai muito além da curiosidade: é uma prova de como pesquisadores, com observação cuidadosa, tecnologia de ponta e curiosidade, são capazes de revelar os segredos do Universo, mesmo a milhões de quilômetros de distância.
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