Casos de câncer colorretal tem crescido entre pessoas com menos de 50 anos, consideradas jovens. No domingo (20), a cantora e apresentadora morreu vítima da doença. No caso dela, o tumor tinha sido descoberto em janeiro de 2023, quando ela tinha 48 anos.
Esse tipo de câncer afeta o intestino grosso (o cólon) e o reto. Por isso, está entre os que mais impactam a saúde e a qualidade de vida do paciente. Quando perguntados sobre o crescimento de casos, especialistas ouvidos pela BBC Brasil usaram termos como “assustador”, “preocupante” e “problema global”.
Câncer colorretal aumentou 70% entre pacientes jovens, diz especialista
Pessoas com mais de 50 anos ainda são a maioria dos acometidos pelo câncer de intestino. Porém: “se você comparar os números atuais com a taxa que tínhamos há 30 anos, alguns trabalhos chegam a apontar um aumento de 70% na incidência de câncer colorretal em pacientes jovens”, disse o oncologista clínico Paulo Hoff, presidente da Oncologia D’Or.
Hoff também é diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). E ele disse o seguinte: “Em 2019, publicamos um trabalho em que mostramos claramente um aumento substancial na chegada de pacientes mais jovens com câncer colorretal.”
Num período de dez anos, essa elevação tinha sido na ordem de 15%. Mas é muito provável que esse número esteja subestimado.
Paulo Hoff, oncologista, presidente da Oncologia D’Or e diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), à BBC Brasil
Já a epidemiologista Marianna Cancela trouxe um contraponto. “No caso do câncer colorretal, é verdade que há um aumento no Brasil, mas isso ainda ocorre em todas as faixas etárias”, disse. Ela é pesquisadora da Vigilância e Análise de Situação da Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
No caso das pessoas jovens, a situação é a seguinte: em 2000, havia aproximadamente cinco casos desse tumor por 100 mil habitantes entre homens de 20 a 49 anos; já em 2017, o número subiu para cerca de seis casos, segundo a pesquisadora. “Isso é algo estatisticamente significativo”, disse.
“Entre as mulheres mais jovens, também observamos essa tendência de aumento, mas ela ainda não é significativa do ponto de vista estatístico”, acrescentou.
Além disso, o câncer colorretal é o único tumor com previsão de aumento do número de óbitos no futuro no Brasil. Isso vale tanto para homens quanto mulheres. É o que aponta uma pesquisa publicada pela epidemiologista. O estudo analisou se o Brasil seria capaz de cumprir as metas da ONU de redução das mortes prematuras por câncer.
Existem teorias e hipóteses para explicar aumento de câncer de intestino
Existem algumas hipóteses e teorias. “Mas nenhuma delas foi confirmada até o momento”, disse Hoff.
“A primeira delas está relacionada à mudança dramática que ocorreu nas últimas décadas, em que nós saímos de uma civilização agrária e rural para uma sociedade predominantemente urbana”, disse o oncologista.
“Isso alterou vários aspectos da vida, com o avanço de uma dieta baseada em produtos ultraprocessados, com menor presença de alimentos naturais, e mais sedentarismo”, explicou.
Além disso, sabe-se que sobrepeso e obesidade são fatores relacionados a esse tipo de tumor. Mas pesquisadores levantam outras suspeitas.
“Também não podemos descartar o impacto de algumas práticas, como o uso indiscriminado de antibióticos, seja diretamente para tratar as pessoas ou na produção pecuária, em aves e bovinos”, disse o médico Alexandre Jácome, líder nacional de oncologia gastrointestinal na Oncoclínicas.
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No Brasil, não existe esquema público para rastrear o câncer colorretal. Mas o Inca debate um programa específico para essa doença. Ele deve ser lançado nos próximos meses.
Em relação a este tumor, dois testes podem ser utilizados para detectá-lo: o exame de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia.
No caso do sangue nas fezes, é um indício para que uma investigação mais aprofundada seja feita. A colonoscopia “é o exame padrão ouro porque tem uma sensibilidade maior, ou seja, uma capacidade superior de detectar as lesões com acurácia”, explicou Jácome.
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