Aves migratórias são capazes de percorrer milhares de quilômetros por ano, muitas vezes cruzando continentes ou oceanos inteiros. Sem qualquer equipamento de navegação, elas seguem rotas complexas com uma precisão que ainda surpreende cientistas.
Boa parte da orientação durante a migração se dá por um sentido que humanos não possuem: a capacidade de perceber o campo magnético da Terra. Esse fenômeno se chama magnetorecepção.
“A ave tem a capacidade de ‘enxergar’ esses campos com proteínas que reagem formando a visão do caminho. E, no bico, elas possuem receptores que percebem a intensidade magnética, que também ajuda a guiá-las”, detalha o veterinário Thiago Borba, que atua em Brasília.
A veterinária Vívian Quito, de São Paulo, complementa que o processo de orientação é multissensorial. “Elas se guiam por múltiplas pistas: visuais (como paisagens e o posicionamento do Sol), astronômicas (estrelas), auditivas (sons ambientais), olfativas e, principalmente, pelo campo magnético da Terra”, afirma.
O Dia Mundial das Aves Migratórias, celebrado em 8 de outubro, destaca espécies que viajam longas distâncias e servem como indicadores ambientais
Comportamento migratório das aves
O comportamento migratório das aves é, em parte, programado geneticamente. No entanto, o aprendizado também exerce um papel relevante, principalmente em espécies que migram em grupo.
“Parte do comportamento migratório é inato. No entanto, o aprendizado também desempenha um papel importante, principalmente em aves que migram em grupo”, explica Vívian.
Filhotes costumam seguir os adultos nas primeiras viagens, aprendendo as rotas e os locais de parada ao longo do tempo. Essa combinação de instinto e experiência contribui para a precisão com que muitas aves refazem trajetos ano após ano.
No Brasil, as rotas migratórias tendem a ser mais curtas e menos intensas em comparação com as de regiões de clima mais extremo. Mesmo assim, há registros de aves que se desorientam ou chegam debilitadas durante o percurso.
Nos últimos anos, o deslocamento tem enfrentado obstáculos crescentes. Mudanças no clima, perda de áreas naturais, poluição luminosa, estações de energia eólica e estruturas urbanas, como prédios envidraçados e torres de transmissão, interferem diretamente nas rotas estabelecidas.
“A migração já é um processo desgastante por si só, e os desafios vêm aumentando. As mudanças climáticas alteram a disponibilidade de alimentos, os ventos e as temperaturas ao longo das rotas”, alerta Vívian.
Adaptações evolutivas
Segundo Borba, a migração começa na estrutura corporal. “Com milhares de anos de adaptação, as aves desenvolveram penas aerodinâmicas, ossos cheios de ar, adaptações fisiológicas, além de aprenderem a utilizar correntes de ar, permitindo até que durmam durante o voo”, conta o especialista.
Essas características são essenciais para garantir a eficiência energética. Os ossos pneumáticos reduzem o peso corporal, enquanto a aerodinâmica das asas e o formato do corpo maximizam o desempenho no ar.
“As adaptações fisiológicas permitem muita economia de energia. Dois segredos para o sucesso da viagem são paradas estratégicas para alimentação e um bom acúmulo de gordura antes do período migratório”, afirma Borba.
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