Registrar o nascimento de um planeta é algo bastante raro na astronomia, mas, com a ajuda do Very Large Telescope (VLT), cientistas conseguiram imagens sem precedentes do sistema HD 135344B, localizado a cerca de 440 anos-luz da Terra. Nesta segunda-feira (21), foi divulgada a imagem de um planeta ainda em formação, esculpindo um padrão intrincado no gás e na poeira que circundam sua jovem estrela hospedeira.
“Nunca testemunharemos a formação da Terra, mas aqui, ao redor de uma estrela jovem a 440 anos-luz de distância, podemos estar observando um planeta surgindo em tempo real”, diz Francesco Maio, pesquisador de doutorado na Universidade de Florença, na Itália, e principal autor do estudo, publicado na Astronomy & Astrophysics.
O que há de especial nesse planeta?
O planeta orbita a estrela HD 135344B dentro de um disco protoplanetário. Esse disco é formado por partículas frias e superdensas de gás e poeira interestelar que colapsam durante a formação de uma estrela devido à sua própria gravidade. Esse material se organiza em um formato achatado – daí o nome “disco” –, e é nesse “berçário” que novos planetas surgem.
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Discos protoplanetários já foram observados ao redor de outras estrelas jovens e frequentemente exibem padrões intrincados. Mas, até agora, nenhum desses “escultores planetários” havia sido flagrado em ação.
“O que torna essa detecção um potencial ponto de virada é que, diferentemente de muitas observações anteriores, conseguimos detectar diretamente o sinal do protoplaneta, que ainda está profundamente incorporado ao disco”, explica Maio, que trabalha no Observatório Astrofísico de Arcetri, um centro do Instituto Nacional de Astrofísica da Itália (INAF).
Quatro imagens diferentes do disco protoplanetário que rodeia a jovem estrela HD 135344B revelam estruturas semelhantes a vórtices. Esses vórtices podem reter poeira e desencadear instabilidades que ajudam os planetas a se formarem e crescerem. Crédito: Richard Teague e a Colaboração exoALMA
“Isso nos dá um nível muito maior de confiança na existência do planeta, já que estamos observando a própria luz emitida por ele”, completou.
Estrela já trouxe outros registros históricos
Em maio, imagens com precisão inédita capturaram os registros mais detalhados já feitos de estrelas jovens cercadas por poeira e gás – o ambiente onde planetas estão começando a se formar –, incluindo essa mesma estrela.
Observações da emissão de monóxido de carbono de 15 discos protoplanetários revelam uma variedade impressionante de estruturas gasosas, incluindo lacunas, anéis e espirais. Crédito: Richard Teague e a Colaboração exoALMA
Essas imagens mostram mais de uma dúzia de sistemas ainda em estágio inicial e ajudam a entender onde exatamente os planetas se formam, com que velocidade crescem e quais materiais compõem essas novas estruturas. Os dados ajudarão a aperfeiçoar modelos sobre a origem dos planetas.
Na ocasião, os registros foram feitos com o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), um conjunto de radiotelescópios instalado no deserto do Atacama, no Chile, capaz de enxergar detalhes invisíveis a outros telescópios, graças a técnicas que aumentam a nitidez e eliminam distorções nas imagens.
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