Desmatamento da Amazônia eliminou 60% mais aves do que o estimado

Os cientistas já sabiam que o desmatamento de florestas é prejudicial para a vida no planeta, mas não imaginavam quanto. Uma pesquisa conduzida por pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, revelou que ao desmatar pedaços da Amazônia para criar gado, perdeu-se 60% mais da biodiversidade de aves da região do que se previa.

A pesquisa, publicada na revista Nature Ecology and Evolution nesta terça-feira (22/7) , traz o maior levantamento da história sobre a biodiversidade de aves tropicais amazônicas. O estudo foi conduzido ao longo de mais de sete anos na Colômbia, com o registro da rotina de 971 espécies de aves, quase 10% de todas as existentes no mundo.

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Com base nos dados coletados e no cruzamento com a sensibilidade de cada espécie à mudança climática, os pesquisadores constataram que o efeito do desmatamento na biodiversidade é, em média, 60% mais grave do que indicavam análises anteriores feitas em escala local. A perda de espécies estava subestimada de 47 a 78% para cada ave.

Por serem realizadas em áreas menores e cobrindo um leque mais restrito de espécies, as pesquisas anteriores não estavam revelando o verdadeiro prejuízo do desmatamento. A nova investigação avaliou florestas tropicais e pastagens de gado em treze ecorregiões da Colômbia, mostrando que os efeitos negativos são mais amplos quando analisados em larga escala.

Desmatamento eliminou boa parte da biodiversidade das aves da região amazônica

Estudos locais subestimam o dano

Segundo o biólogo David Edwards, líder do estudo, o resultado encontrado chocou a equipe. “Descobrimos que a perda de biodiversidade causada pelo desmatamento da floresta tropical para pastagens está sendo enormemente subestimada”, afirmou.

Ele acrescentou: “Quando as pessoas querem entender o impacto mais amplo do desmatamento na biodiversidade, tendem a fazer um levantamento local e extrapolar os resultados. Mas o problema é que o desmatamento está ocorrendo em escalas espaciais massivas, em todos os tipos de habitats e elevações diferentes e seu impacto é global”.

Durante o estudo, os pesquisadores usaram gravações sonoras para identificar aves que não podiam ser vistas para avaliar sua frequência. Em 80% dos registros, os animais foram reconhecidos apenas por seus cantos, sem serem avistados. O material coletado permitiu projetar como outras espécies reagiriam a alterações semelhantes no habitat.

Efeitos da perda de habitat na Amazônia

Embora as aves sejam menos afetadas diretamente pelo desmatamento — por sua capacidade de fugir —, muitas delas dependem de habitats em árvores de alturas específicas ou da presença de alimentos característicos da floresta. Por isso, acabam fugindo da região desmatada ou morrendo.

Quando o desmatamento ocorre em toda a área de distribuição dessas espécies, muitas não conseguem sobreviver. A perda de habitat, portanto, tem efeito cumulativo. Além da pecuária, outras atividades como o cultivo de café, cana, dendê e borracha também têm expandido sobre áreas de floresta tropical, ampliando os riscos para a biodiversidade.

Os pesquisadores alertam que, entre 1990 e 2019, mais de 219 milhões de hectares de florestas tropicais foram convertidos para outros usos. “A conservação efetiva exige medidas que considerem toda a extensão biogeográfica dos ecossistemas. Isso inclui apoiar comunidades indígenas, criar amplas áreas protegidas e estabelecer metas claras, como proteger 30% do território até 2030”, concluem os pesquisadores.

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