A engenharia genética, conhecida por revolucionar a agricultura e alimentar projetos de “desextinção”, é apontada por cientistas como uma ferramenta promissora para salvar espécies ameaçadas de desaparecer.
Cientistas de diferentes instituições propõem usar essas tecnologias para recuperar a diversidade genética de animais em risco. “Estamos enfrentando a mudança ambiental mais rápida da história da Terra, e muitas espécies perderam a variação genética necessária para se adaptar e sobreviver”, afirma o professor Cock van Oosterhout, da Universidade de East Anglia (UEA), um dos líderes do trabalho, em comunicado.
Segundo ele, a engenharia genética pode ajudar a reverter esse quadro ao recuperar variantes de DNA perdidas, inclusive a partir de amostras armazenadas em museus e biobancos.
O estudo, publicado na sexta-feira (18/7) na revista Nature Reviews Biodiversity, destaca que a intervenção pode complementar as estratégias tradicionais de conservação, como reprodução em cativeiro e proteção de habitats, que costumam se concentrar no aumento do número de indivíduos, mas pouco fazem para resgatar a genética original de uma população.
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Espécies se recuperam, mas continuam vulneráveis
Mesmo após uma recuperação populacional, muitos animais permanecem geneticamente “frágeis”, com poucas variantes genéticas e grande carga de mutações prejudiciais, um processo conhecido como erosão genômica. Sem diversidade suficiente, as espécies têm menos capacidade de se adaptar a novas doenças ou às mudanças climáticas.
Um exemplo disso é o do pombo-rosa das Ilhas Maurício. A ave, que chegou a ter apenas dez indivíduos vivos, conta hoje com mais de 600 espécimes, após décadas de esforços de conservação. Apesar disso, estudos revelam que a genética dele continua gravemente comprometida. Se nada for feito, os cientistas estimam que a espécie poderá desaparecer nos próximos 50 a 100 anos.
A edição genética, segundo os pesquisadores, pode ser a chave para reverter esse destino. A proposta prevê três caminhos principais: restaurar a variação genética perdida com base em amostras antigas, inserir genes de espécies aparentadas mais resistentes e trocar mutações danosas por variantes saudáveis.
Tecnologia usada na agricultura pode beneficiar a fauna
A ideia de usar a biotecnologia na conservação de espécies não é inédita. Plantas modificadas geneticamente para resistir a pragas e à seca já ocupam milhões de hectares no mundo. A mesma lógica vem sendo aplicada em projetos ambiciosos, como a tentativa de “ressuscitar” o mamute-lanoso por meio da edição do genoma de elefantes. A missão, no entanto, é cercada de controvérsias.
Os pesquisadores reconhecem que a estratégia ainda está em fase experimental e exige cuidado. Há riscos de modificações genéticas imprecisas e até perda de diversidade. Por isso, eles defendem testes em pequena escala, monitoramento contínuo dos impactos ecológicos e o envolvimento de comunidades locais e povos indígenas em todas as etapas do processo.
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