Nesta segunda-feira (21), o governo do Reino Unido anunciou parceria estratégica com a OpenAI, visando “expandir colaborações de pesquisa de segurança de IA, explorar investimentos em infraestrutura de IA do Reino Unido, como em data centers, e encontrar novas maneiras para os serviços financiados pelos contribuintes” usufruírem da inteligência artificial (IA).
A parceria — firmada por meio de um Memorando de Entendimentos e 100% voluntária — é mais especificamente entre a empresa de Sam Altman e o Departamento de Ciência, Inovação e Tecnologia (DSIT, na sigla em inglês) britânico.
O que diz exatamente o acordo entre OpenAI e Reino Unido?
As partes concordaram em enfrentar tarefas positivas;
Contudo, em último caso, tarefas vagas, como:
Procurar maneiras de usarem “modelos avançados de IA” nos setores público e privado;
Compartilhar informações sobre riscos de segurança envolvendo a tecnologia; poderão ser abordadas.
Ainda, a OpenAI poderá ajudar o DSIT a identificar formas de cumprir as metas de infraestrutura do Plano de Ação de IA, definido pelo Reino Unido há alguns meses;
Também deverá trabalhar no projeto de construção de uma das novas “Zonas de Crescimento de IA” do país, em favor do centro de dados;
Como contrapartida, o governo britânico afirmou que irá buscar maneiras de adotar a IA da empresa em setores públicos, como Justiça, defesa e tecnologia educacional;
Isso, contudo, pode exigir uso dos dados de milhões de cidadãos, com vistas a criar os serviços digitais alimentados pela IA da OpenAI, alerta a Folha de S.Paulo.
Contudo, o Memorando assinado por Reino Unido e OpenAI não é juridicamente vinculativo; ou seja, se alguma outra empresa de IA abordar o governo britânico com uma proposta, ele pode aceitar sem problemas.
E isso já aconteceu (e foi neste ano): o país tem acordos similares com Anthropic, dona do Claude, e com a startup canadense Cohere. Os contratos foram firmados em fevereiro e junho, respectivamente.
O país tenta impulsionar o uso da IA, definido com o Plano de Ação de IA, incluindo, também, mais infraestrutura computacional — e o país tem experiência: ele já foi sede de grandes laboratórios de pesquisa de IA, como o Google DeepMind.
Estratégia perfeita
Para a OpenAI, fechar com o governo do Reino Unido não parece ser problemas, pois ela já possui escritórios em Londres (Reino Unido) há pelo menos dois anos, o que pode impactar direta e positivamente nos investimentos da startup por lá, lembra o Engadget.
Além disso, frisa o portal, a OpenAI tem crescente interesse em trabalhar com governos que buscam, avidamente, incluir a IA em seus sistemas e, assim, fazer parte do boom.
Sem contar que a companhia lançou, em janeiro, o ChatGPT Gov, voltado justamente para agências governamentais. Isso, para o Engadget, pode favorecer a OpenAI em decisões políticas, ou, pelo menos, essas colaborações com nações podem dar mais subsídios e prestígio para a empresa.
Déficit de investimento
Apesar de estar tomando essas medidas com a OpenAI, o investimento britânico feito por instituições privadas, em 2024, foi de US$ 4,5 bilhões (R$ 25,05 bilhões, na conversão direta), bem abaixo de Estados Unidos (US$ 109,1 bilhões/R$ 607,40 bilhões) e China (US$ 9,3 bilhões/R$ 51,77 bilhões), conforme dados do AI Index Report 2025, da Universidade de Stanford (EUA).
E a estratégia britânica para aumentar o uso da IA não tem só apoiadores. Críticos, como grupos da indústria criativa, atacam a disposição do governo em considerar mudanças nas leis de direitos autorais, visando permitir que as empresas de tecnologia tenham mais livre acesso a materiais protegidos para treinar suas IAs.
Plano de IA e ligação com a OpenAI
Como dissemos, o Plano de Ação de IA do Reino Unido (chamado pelo secretário digital, Peter Kyle, de “plano de ação de oportunidades de IA“) foi anunciado em janeiro para impulsionar o setor e criar as “zonas de crescimento de IA“, visando aumentar o investimento em infraestrutura de IA no país. Para tanto, foram reservados dois bilhões de libras (R$ 15 bilhões).
A OpenAI, por sua vez, pontuou, no Memorando, que “poderia considerar investir e apoiar” o projeto britânico. “O Reino Unido tem forte legado de liderança científica e seu governo foi um dos primeiros a reconhecer o potencial da IA por meio de seu plano de ação de oportunidades de IA. Agora, é hora de cumprir os objetivos do plano, transformando ambição em ação e proporcionando prosperidade para todos“, disse Altman, que também é CEO da startup.
Pelo lado do governo, Kyle afirmou que “esta parceria verá mais do trabalho [da OpenAI] acontecendo no Reino Unido, criando empregos tecnológicos bem remunerados, impulsionando investimentos em infraestrutura e, crucialmente, dando, ao nosso país, força sobre como essa tecnologia transformadora avança”.
A companhia também disse que vai “explorar” o desenvolvimento de infraestrutura e desenvolvimento locais. Ela também se comprometeu a compartilhar informações sobre as capacidades de seus modelos de IA e riscos de segurança com o Instituto de Segurança de IA do Reino Unido.
Mas se engana quem pensa que o ChatGPT e o Modelo de Linguagem Grande (LLM, na sigla em inglês) que o compõe, o 4o, já não estão presentes na “alta cúpula” britânica.
Ambos já são usados no assistente de IA do governo, o Humphrey, que auxilia os funcionários públicos em suas respectivas tarefas administrativas, além de ajudar na classificação de respostas públicas às consultas.
“Parcerias, como essa, contribuirão para um ecossistema em que o Reino Unido é um ‘criador de IA‘, com nossas próprias empresas de tecnologia e PMEs [Pequenas e Médias Empresas] capazes de florescer — ou, simplesmente, consolidarão o poder de mercado dos players estabelecidos e nos deixarão como um ‘consumidor de IA‘?”, questionou Imogen Parker, diretora associada do Instituto Ada Lovelace, instituto de pesquisa de IA.
Ela finalizou, dizendo que esse tipo de parceria também “pode parecer um bom negócio hoje, mas arriscam criar dependências estruturais, limitando nossa capacidade de buscar alternativas no futuro”.
Demais empresas com contratos com o Reino Unido
Voltando às rivais da OpenAI que possuem contratos com o Reino Unido, a estadunidense Anthropic, por exemplo, cedeu seus modelos de IA para serem utilizados no novo app do governo, no qual os cidadãos encontram informações no site do país.
Por sua vez, a canadense Cohere se comprometeu a fazer como as demais e ajudar o setor público a usar suas tecnologias, incluindo a área de defesa.
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