Para vencer os desafios do reino animal, nos últimos milhões de anos diversos mamíferos desenvolveram uma habilidade de sucesso: comer formigas. Um novo estudo publicado na revista Evolution revelou que, desde a extinção dos dinossauros, pelo menos 12 linhagens de mamíferos evoluíram para se alimentar apenas desses insetos.
Para entender porque essa estratégia alimentar — nomeada de mirmecofagia — se mostrou tão eficiente no decorrer da evolução, pesquisadores compilaram dados de 4 mil espécies de mamíferos. O estudo levou em consideração quase um século de registros de história natural, relatórios de conservação, descrições taxonômicas e informações da dieta desses animais.
Após organizarem esses seres em uma árvore genealógica, os cientistas identificaram pelo menos 12 origens independentes da mirmecofagia. A descoberta representa um dos maiores exemplos conhecidos de convergência evolutiva: fenômeno em que espécies diferentes desenvolvem características semelhantes para lidar com desafios parecidos.
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O estudo também levou em conta a história evolutiva de formigas e cupins para explicar como os mamíferos passaram a se alimentar desses insetos. Os pesquisadores estimaram o tamanho das colônias de formigas desde o Cretáceo, há cerca de 145 milhões de anos, e descobriram que, na época, elas representavam menos de 1% dos insetos na Terra.
No entanto, no decorrer do tempo sua quantidade aumento. Durante o Mioceno, há cerca de 23 milhões de anos, elas já eram 35% de todas as espécies de insetos terrestres.
Hoje, segundo um estudo de 2022, cerca de 20 quadrilhões de formigas habitam o planeta. Se sua biomassa fosse somada, totalizaria cerca de 12 megatoneladas de carbono — mais do que todos os animais selvagens e aves juntos.
“Não está claro exatamente por que o número de formigas e cupins aumentou na mesma época. O que está claro é que sua biomassa desencadeou uma cascata de respostas evolutivas entre plantas e animais”, disse Phillip Barden, um dos autores do estudo e professor no Instituto de Tecnologia de Nova Jersey (NJIT), em entrevista ao site ScienceAlert.
Comer só formigas pode ser um beco sem saída evolutivo, disse pesquisador
Embora com muitos benefícios, a pesquisa também mostrou que os mamíferos comedores de formigas quase nunca retornam a uma dieta mais convencional, nem se diversificam, após evoluírem. Além disso, as linhagens mirmecófagas permanecem limitadas, oito das doze são representadas por apenas uma espécie.
Barden explicou que a estratégia evolutiva de adotar a mirmecofagia pode colocar essas espécies em um beco sem saída evolutivo. Mas, por enquanto, elas são casos de sucesso em especialização e podem até mesmo ter vantagem sobre os outros animais.
Os pesquisadores esperam que o estudo abra caminho para pesquisas mais detalhadas sobre a especialização alimentar e as origens evolutivas de cada espécie mirmecófaga. Segundo a equipe, o artigo também deve servir como uma base sólida para a compreensão das estratégias de dieta dos mamíferos no decorrer da história natural.
“A história da vida é repleta de cruzamentos. Mesmo linhagens muito distantes – insetos sociais e mamíferos que compartilharam um ancestral comum pela última vez há mais de 500 milhões de anos – interagem de maneiras que podem desencadear especializações marcantes ao longo de dezenas de milhões de anos”, concluiu Barden.
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