A taxação das big techs no Brasil pode virar moeda de troca na negociação das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos. Como os dois assuntos estão em alta, a ideia chegou a ser ventilada pelo governo como forma de negociar com o presidente americano, Donald Trump.
No entanto, há empecilhos. Um deles é que Trump já se mostrou contrário à taxação das empresas de tecnologia americanas ao redor do mundo, o que deve dificultar essa conversa. Outro é que o próprio governo brasileiro discorda do timing da taxação.
Brasil quer taxar as big techs
Em meio ao anúncio das tarifas americanas de 50% para o Brasil, o presidente Lula afirmou que o país vai começar a taxar as big techs, destacando a soberania brasileira. Na ocasião, Lula também criticou o uso de uma suposta liberdade de expressão como justificativa para proferir discursos violentos, preconceituosos ou de desinformação nas plataformas digitais. O Olhar Digital deu detalhes aqui.
Desde semana passada, o governo brasileiro não recebeu resposta direta de Trump ou do governo americano, e segue na tentativa de negociar as tarifas antes que elas entrem em vigor, em 1º de agosto.
Com o tarifaço e a discussão da taxação das empresas americanas acontecendo ao mesmo tempo, uma hipótese chegou a ser cogitada pela equipe econômica do Brasil: usar as propostas de taxação como moeda de troca para negociar as tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Ideia não foi para a frente
De acordo com apuração do Estadão, a ideia perdeu força no meio da semana, quando o Departamento do Estado americano fez uma publicação no X criticando a regulamentação europeia das plataformas digitais – na qual o Brasil se inspira.
Na ocasião, a página da missão permanente da França junto à Organização das Nações Unidas (ONU) publicou uma imagem dizendo que “na Europa, todo mundo é livre para se expressar, mas não livre para espalhar conteúdos ilegais”. A conta do Departamento americano respondeu que “na Europa, milhares estão sendo condenados pelo crime de criticar seus próprios governos”, em uma crítica direta à regulamentação.
In Europe, thousands are being convicted for the crime of criticizing their own governments. This Orwellian message won’t fool the United States. Censorship is not freedom. https://t.co/cWcZfeWl4L pic.twitter.com/kCDhaXCVkC
— Department of State (@StateDept) July 22, 2025
Como a regulamentação brasileira (em discussão) têm influência no modelo europeu, o entendimento é que levá-la para a negociação com Trump pode soar como uma provocação. Além disso, o governo considera que a regulamentação das big techs no Brasil é uma questão de soberania nacional, que não deve ser usada como moeda de troca.
Por enquanto, nenhum acordo foi fechado na negociação do tarifaço. Ou seja, o governo Lula ainda pode voltar no assunto.
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O Estadão diz que propostas de taxação das big techs avançaram, com textos prontos para serem apresentados ao Congresso.
Já de acordo com o site Jota, tanto o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) quanto o Ministério da Fazenda acreditam que não seja a hora certa para discutir esse assunto. As pastas entendem que uma cobrança às empresas americanas neste momento pode soar como uma retaliação ao tarifaço.
Leandro Alvarenga, consultor de privacidade e segurança, falou ao Olhar Digital sobre o assunto. Segundo ele, fontes vinculadas ao Ministério da Economia enxergam as afirmações de Lula sobre taxar as big techs como um jogo político, mais do que uma proposta efetiva.
Não existe um projeto efeito para taxas as big techs no Brasil. Isso é uma resposta política, (…) um discurso contra o discurso americano.
Leandro Alvarenga, consultor de privacidade e segurança
Assista à fala completa de Alvarenga sobre o assunto a partir de 3:35:
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