O biólogo e youtuber Pirulla, de 42 anos, surpreendeu seus seguidores ao enfrentar um problema de saúde que, infelizmente, não escolhe idade. No final de maio, o divulgador científico sofreu um AVC e, semanas depois, iniciou sua reabilitação. O caso revela uma realidade que, embora pareça distante para pessoas jovens, tem se tornado cada vez mais comum do que imaginamos.
De acordo com o professor de Neurologia João Brainer, do Centro Universitário São Camilo, o aumento dos casos em menores de 45 anos se deve a uma combinação de fatores. “Temos visto principalmente AVC isquêmico, causado pelo entupimento de uma artéria do cérebro, embora também tenha crescido discretamente o número de casos hemorrágicos”, explica em entrevista à AnaMaria.
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Entre os motivos, aparecem doenças genéticas, como as trombofilias, o uso de tabaco, vape, álcool e drogas ilícitas, com destaque para as simpaticomiméticas, como a cocaína.
O estilo de vida moderno também tem sua parcela de culpa. “Estresse constante, sedentarismo e uma alimentação rica em ultraprocessados, que contém nanoplásticos, estão associados ao risco maior de doença isquêmica cerebral e até de infarto em jovens”, conta o neurologista, ressaltando que esses hábitos são cada vez mais comuns nas rotinas aceleradas da vida atual.
Além desses fatores, há outro ponto importante: o avanço nos diagnósticos. Hoje, médicos e profissionais de saúde estão mais preparados para identificar sinais de AVC em pacientes mais jovens, o que antes passava despercebido ou era confundido com outras condições.
SAMU, a sigla que pode salvar vidas
Em um AVC, cada minuto conta. Por isso, é fundamental saber reconhecer os primeiros sinais e buscar ajuda imediata. No Brasil, costuma-se usar o acrônimo SAMU para facilitar a memorização:
S: Sorria – desvio na boca ao tentar sorrir, com a boca ficando torta.
A: Abraço – fraqueza em um lado do corpo, dificuldade para levantar um dos braços.
M: Música – dificuldade para falar, entender ou repetir frases simples.
U: Urgente – necessidade de acionar rapidamente o serviço médico.
Nos Estados Unidos, e em materiais internacionais mais atualizados, fala-se em BE-FAST, que acrescenta mais dois sinais importantes:
B: Balance – desequilíbrio súbito ou dificuldade para andar.
E: Eyes – perda súbita da visão em um dos olhos ou em parte do campo visual.
O professor explica que os sintomas são os mesmos em jovens e idosos, mas chama atenção para o fato de que, em pacientes mais jovens, os casos tendem a ser mais graves, com mais áreas do cérebro comprometidas desde o início.
Recuperação: uma corrida contra o tempo
Quando o AVC é reconhecido rapidamente, o tratamento pode ser iniciado dentro da chamada “janela de ouro”, que é o período de até 4 horas e meia após o início dos sintomas. Nesses casos, há a possibilidade de uso de um medicamento trombolítico, como a alteplase, que, felizmente, está disponível no SUS para acelerar a dissolução do coágulo.
Em situações mais graves, pode ser indicada a trombectomia, um procedimento que retira o coágulo que está obstruindo a artéria, minimizando o dano cerebral.
A recuperação tende a ser mais promissora em pessoas jovens, já que o cérebro tem maior capacidade de reorganização, fenômeno conhecido como neuroplasticidade. Ainda assim, o caminho exige acompanhamento intenso e dedicação, com fisioterapia, fonoaudiologia e, muitas vezes, apoio psicológico. “Quanto mais rápido o tratamento, maior a chance de um bom prognóstico”, reforça o especialista.
Vacina contra a Covid-19: existe relação com o AVC?
Diante do caso de AVC de Pirulla, surgiram especulações sobre possíveis ligações com vacinas contra a Covid-19. Segundo Brainer, “houve uma associação discreta com uma vacina específica, que já foi descontinuada, e apenas em pessoas que já tinham predisposição. Mas isso não se confirmou em larga escala”, esclarece.
Por outro lado, o próprio coronavírus mostrou-se um vilão no aumento dos casos. A infecção por Covid-19 elevou significativamente o risco de AVC, inclusive em jovens, o que torna ainda mais importante a vacinação para proteção da população.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (4 de junho). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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