Artefato da tumba de Tutancâmon está à venda? Entenda a polêmica

Enquanto quase todas as tumbas dos faraós do Egito Antigo foram completamente saqueadas, a de Tutancâmon foi descoberta praticamente intacta em 1922. Com milhares de itens catalogados ao longo dos anos, alguns deles acabaram nas mãos do arqueólogo britânico Howard Carter, responsável pela descoberta histórica. Agora, um desses objetos pode ter aparecido em um lugar inusitado: uma casa de leilões.

Dizer que os itens “acabaram nas mãos” de Carter talvez seja uma forma “suave” de afirmar que o arqueólogo roubou objetos da tumba do Rei Tut. Há anos, egiptólogos tentam localizar e catalogar esses itens supostamente roubados, e o objeto em leilão é alvo de disputa há tempos.

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Chamado de Gafanhoto de Guennol, o artefato será leiloado neste domingo (27) pela Apollo Art Auctions, uma pequena casa de leilões em Londres. O objeto, esculpido em marfim com detalhes intrincados, possui um orifício para armazenar perfume e está avaliado em US$ 675 mil (cerca de R$ 3,3 milhões).

O leilão está marcado para este domingo (27), mas poucos detalhes foram divulgados.

Gafanhoto de Guennol (Imagem: Divulgação/Apollo Art Auctions)

Gafanhoto pertenceu à tumba de Tutancâmon?

Segundo o The New York Times, a Apollo Art Auctions afirma que não há “nenhuma evidência documentada” de que o vaso tenha vindo da tumba do faraó. “O item não consta em nenhum inventário oficial da escavação”, diz a casa em comunicado.

No entanto, especialistas contestam essa alegação. Christian Loeben, arqueólogo renomado do Museu August Kestner, em Hanover (Alemanha), e especialista na carreira de Carter, declarou estar “bastante convencido” de que o gafanhoto só poderia ter origem na tumba.

A casa de leilões afirma que o item é “contemporâneo a Tutancâmon”, mas não confirma sua procedência. Loeben ressalta que registros históricos indicam que Carter vendeu o objeto após retornar à Inglaterra. Arqueólogos defendem que o artefato seja devolvido ao Egito.

A Apollo também mencionou que o Art Loss Register — empresa sediada em Londres que mantém um banco de dados de artefatos roubados — emitiu um “certificado de liberação” atestando que o item não consta em sua lista.

O item foi realmente roubado?

Na época da descoberta da tumba, o governo egípcio permitia que arqueólogos ficassem com metade dos achados caso o local já tivesse sido saqueado. No caso de Tutancâmon, porém, a tumba estava intacta — embora Carter alegasse que havia sido violada no passado.

De qualquer forma, o governo egípcio nunca aplicou essa regra à tumba do Rei Tut e decidiu ficar com todos os itens.

Caixa de quartzito que abrigava o sarcófago triplo de Tutancâmon. Griffith Institute, University of Oxford/Reprodução

Pouco após a morte de Carter, em 1939, sua sobrinha encontrou, entre seus pertences, objetos com a inscrição do nome de Tutancâmon — alguns dos quais foram devolvidos ao Egito.

O fato de o item estar sendo leiloado por uma casa pouco conhecida também levanta suspeitas sobre sua origem, já que leiloeiros renomados dificilmente negociariam um artefato de procedência duvidosa.

Até o momento, o Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito não se pronunciou especificamente sobre o gafanhoto.

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