Tarifas de Trump revelam fragilidade diplomática do Brasil e deixam alerta

O aumento das tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros estabelecido pelo presidente Donald Trump passa a valer a partir de 1º de agosto e já provoca impacto em empresas que dependem do comércio com os Estados Unidos, levando à redução da produção destinada à exportação para aquele mercado. O novo patamar tarifário, que chega a 50%, evidencia a necessidade de o Brasil buscar maior diversificação em suas relações comerciais globais.

Enquanto outros países, como Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Filipinas e Japão, conseguiram negociar reduções nas tarifas dos EUA nos últimos dias, o Brasil ficou isolado, e não obteve concessões. Além disso, um novo acordo entre Estados Unidos e União Europeia diminuiu as tarifas do bloco europeu de 30% para 15%, ampliando ainda mais o contraste com o tratamento dado ao Brasil.

+ Leia mais notícias de Economia em Oeste

Isolamento comercial brasileiro em números

De acordo com dados do Banco Mundial, a participação das importações de bens e serviços no PIB brasileiro é de apenas 15,7%, a sexta menor entre 189 países.

“Estamos muito isolados”, afirmou Simão Davi Silber, professor da Universidade de São Paulo ao jornal Gazeta do Povo. “O Brasil tem uma das economias mais fechadas do planeta, só perdendo para o Sudão, que está em guerra com o Sudão do Sul, o Turcomenistão, a Argentina e a Etiópia. E vem, já há algumas décadas, perdendo a chance de se inserir no comércio global.”

Silber avalia que a baixa abertura comercial resulta em produtividade reduzida. Segundo ele, dobrar a fatia das importações no PIB seria crucial para impulsionar o crescimento econômico.

“Se comprássemos componentes melhores no exterior, conseguiríamos promover inovação e aumentar a competitividade global das nossas empresas”, destacou.

O ritmo atual de expansão econômica é considerado insuficiente por Silber, que alerta para o fato de que a renda per capita brasileira levará 70 anos para dobrar nesse cenário. O protecionismo, segundo ele, tem raízes históricas no país, remontando aos anos 1930 e sendo intensificado no pós-guerra, com políticas de substituição de importações e fechamento do mercado para estimular a indústria nacional.

Tarifas de Trump e barreiras: comparação internacional

Atualmente, a média das tarifas brasileiras sobre produtos importados é de 7,26%, mais do que o dobro da média global, que varia de 2% a 3%. No comércio com os Estados Unidos, o Brasil aplica uma tarifa média de 5,8% sobre produtos norte-americanos, enquanto os EUA cobram apenas 1,3% sobre itens brasileiros. Além das tarifas, barreiras regulatórias dificultam as importações: estudo do BTG Pactual revela que 86,4% das compras externas brasileiras enfrentam algum tipo de restrição, índice superior à média global de 72%.

Silber observa que países asiáticos, como Coreia do Sul, Taiwan e Malásia, também adotaram protecionismo no pós-guerra, mas mudaram de rota a partir das décadas de 1960 e 1970.

“Combinando investimentos em educação, infraestrutura e incentivos à exportação, essas nações criaram zonas econômicas especiais, facilitaram a entrada de capital estrangeiro e se integraram à Organização Mundial do Comércio, apostando em inovação tecnológica e ganhos de competitividade.”

As tentativas de abertura comercial no Brasil foram tímidas e pontuais, como nos governos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso; já durante as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o protecionismo aumentou, segundo Silber. O resultado é um desempenho fraco nas exportações: o Brasil representa menos de 1% das exportações mundiais, enquanto a Coreia do Sul, com menor território e população, atingiu 2,5% em 2023.

O post Tarifas de Trump revelam fragilidade diplomática do Brasil e deixam alerta apareceu primeiro em Revista Oeste.