Casos de câncer de fígado duplicarão no mundo em 25 anos, diz estudo

O número de casos de câncer de fígado deve quase que dobrar até 2050, segundo projeções publicadas na revista The Lancet, na segunda-feira (28/7). A estimativa é que o total de diagnósticos mundiais suba dos 870 mil registrados em 2022 para 1,5 milhão nos próximos 25 anos.

O aumento será impulsionado por fatores evitáveis. Mais de 60% dos casos previstos estão ligados a causas que podem ser controladas. Entre elas, estão as hepatites virais (para as quais há vacina), o consumo de álcool e a doença hepática esteatótica, conhecida como fígado gorduroso.

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O relatório feito por médicos da China, Estados Unidos, França e Japão destaca que reduções modestas, incentivadas por bons hábitos, poderiam levar a até 17 milhões de diagnósticos a menos e 15 milhões de mortes até 2050. O câncer de fígado é hoje a terceira causa mais comum de morte por câncer no mundo.

A líder da comissão, a professora Valérie Paradis, do Hospital Beaujon (França), afirmou que o problema deve ser avo de uma conscientização global.  “Comparado a outros tipos de câncer, o de fígado é muito difícil de tratar, mas apresenta fatores de risco que ajudam a definir estratégias específicas de prevenção. Com esforços conjuntos e contínuos, acreditamos que muitos casos podem ser prevenidos e que tanto a sobrevida quanto a qualidade de vida dos pacientes serão consideravelmente melhoradas”, disse em comunicado à imprensa.

Principais sintomas do câncer de fígado

Hoje, o câncer de fígado é o sexto mais comum no mundo. Suas princiapis causas são infecções mal-tratadas ou silenciosas de hepatite e o consumo abusivo de álcool.
Além das hepatites virais e do álcool, ele pode ser desencadeado por cirrose, doenças hereditárias, exposição a toxinas e obesidade.
Grande parte dos pacientes não apresenta sintomas nos estágios iniciais do câncer primário de fígado. No entanto, caso se manifestem, é importante ficar de olho em: emagrecimento sem causa identificável; perda do apetite; e dor na parte superior do abdômen.
Os sintomas mais característicos da doença e de outros problemas no fígado são: coloração amarelada da pele e no interior dos olhos (icterícia) e fezes com coloração esbranquiçada.
Também são sinais de alerta para este e outros tipos de câncer: náusea e vômito; sensação de fraqueza; fadiga e inchaço abdominal.

Obesidade e álcool impulsionam tendência

A forma mais agressiva das doenças inflamatórias do fígado, chamada MASH, também deve crescer 35% até 2050. Ela é causada pelo acúmulo de gordura no fígado, principalmente em pessoas com obesidade, diabetes ou doenças cardiovasculares.

“O aumento das taxas de obesidade é um fator de risco crescente para o câncer de fígado, principalmente devido ao aumento de casos de excesso de gordura ao redor do fígado”, diz o hepatologista Hashem B El-Serag, do Baylor College of Medicine (EUA), um dos pesquisadores.

O álcool também contribui para o avanço da doença. Casos relacionados a esse fator devem crescer de 19% para 21% até 2050. Já os ligados às hepatites B e C tendem a cair, mas ainda responderão por mais da metade das ocorrências.

A China concentra mais de 40% dos diagnósticos globais. A alta carga está relacionada às frequentes infecções por hepatite B. O cenário reforça a importância da vacinação e do rastreio precoce como ferramentas de prevenção.

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Câncer no fígado é uma espécie de tumor maligno e, muitas vezes, bastante agressivo, que se origina nas células que formam o fígado, como hepatócitos, canais biliares ou vasos sanguíneos

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Entre os fatores que podem aumentar o risco do câncer de fígado estão: cirrose hepática, gordura no fígado ou uso de anabolizantes

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Os sintomas costumam surgir nos estágios mais avançados da doença, e incluem dor no abdômen, inchaço da barriga, enjoo, perda do apetite e de peso, sem causa aparente, cansaço excessivo e olhos amarelados

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Segundo levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de fígado foi o sexto tipo da doença que mais matou homens no Brasil, em 2020. Entre as mulheres, foi o sétimo

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O câncer de fígado costuma ser identificado através de exames como o ultrassom ou tomografia, capazes de detectar um ou mais nódulos na região

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O tratamento é feito com cirurgia, radioterapia ou quimioterapia, a depender do tamanho e da gravidade de cada caso, e as chances de cura são maiores quando o tumor é identificado precocemente, assim como em qualquer outro tipo de câncer

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Segundo o Inca, “quando o tumor está restrito a uma parte do fígado (tumor primário), a remoção cirúrgica é o tratamento mais indicado. Assim como no caso dos tumores hepáticos metastáticos, em que a lesão primária foi ressecada ou é passível de ser ressecada de maneira curativa”

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Quando já não é possível alcançar a cura do câncer no fígado, no entanto, o tempo de sobrevida é de aproximadamente 5 anos, mas esse valor pode variar de acordo com o grau de desenvolvimento da doença e outras doenças do paciente

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Quadro silencioso e de difícil detecção

Grande parte dos tumores hepáticos não apresenta sintomas nos estágios iniciais. Quando surgem, sinais como emagrecimento, fraqueza, dor abdominal, náuseas e icterícia podem indicar a presença do câncer.

O diagnóstico envolve exames de sangue, imagem e, em alguns casos, biópsia, mas o rastreamento precoce é raro na população em geral. “Geralmente, não são solicitados exames de rastreamento para o carcinoma hepatocelular na população em geral. Mas, eles podem e devem ser recomendados em casos específicos, como nos pacientes com cirrose hepática, ou ainda infecção crônica por hepatite B”, explica o oncologista Artur Rodrigues Ferreira, da Oncoclínicas, que não participou do estudo.

Recomendações para conter o avanço global

A comissão recomenda aumentar a cobertura da vacina contra hepatite B, principalmente em países com alta prevalência. A triagem universal para adultos e o acesso a novos tratamentos para hepatite C também são pontos centrais.

“Apesar de não existir uma vacina para a infecção pelo vírus C, os novos tratamentos, também oferecidos de forma gratuita na rede pública, possuem chance de cura em cerca de 90% dos casos”, completa Artur.

Políticas públicas devem enfrentar o consumo de álcool com impostos, rótulos de advertência e restrições de publicidade. Além disso, ambientes alimentares saudáveis podem ser promovidos por meio da rotulagem e regulação de alimentos ultraprocessados.

Profissionais de saúde devem incorporar orientações sobre dieta e exercícios à rotina clínica, tanto como prevenção como tratamento.

Em casos avançados, as opções de tratamento incluem cirurgia, transplante hepático, ablação, radioembolização, imunoterapia e terapias-alvo. A quimioterapia é usada com menos frequência, dependendo da condição clínica e da resposta do paciente.

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