Como o Google transformou celulares Android em sensores de terremotos

O Google desenvolveu um sistema de alerta de terremotos chamado Android Earthquake Alerts (AEA). Ele funciona graças a sensores de movimento de mais de dois bilhões de celulares Android.

Esse sistema é tão eficaz quanto sismômetros tradicionais (componente que fica dentro dos sismógrafos) para detectar tremores, segundo estudo publicado na revista Science recentemente.

O sistema “aumentou em dez vezes o acesso global a sistemas de alerta, alcançando 2,5 bilhões de pessoas em três anos”, escreve Angela Hessler, editora da revista. Entre 2021 e 2024, o AEA do Google detectou mais de 11 mil terremotos. E enviou mais de 1,2 mil alertas em 98 países.

“O sistema registrou erros de magnitude baixos e forneceu alertas prévios aos tremores compatíveis com os de outros sistemas de detecção – mas em uma escala muito maior”, acrescenta Angela.

Como celulares com Android viraram sismógrafos e se tornaram úteis em locais propensos a terremotos

Nas últimas décadas, vários países propensos a terremotos (China, México, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos) implementaram sistemas de alerta de terremotos baseados em estações sísmicas.

Esses sistemas, embora eficazes, são caros. Por isso, oferecem cobertura apenas regional na maioria dos casos. E muitos outros países também propensos a terremotos ainda não contam com nenhum tipo de alerta desse tipo.

Sistema do Google que funciona em celulares Android é tão eficaz quanto sismômetros – componente dentro dos sismógrafos (Imagem: Menur / Shutterstock.com)

Para ampliar o alcance desses alertas, o Google desenvolveu o sistema Android Earthquake Alerts. Ele utiliza os acelerômetros de smartphones e smartwatches para detectar ondas P, que antecedem as ondas S – mais destrutivas.

Com essa rede de sensores móveis, o sistema consegue estimar a intensidade e o local do terremoto. Assim, alerta os usuários nas áreas afetadas com alguma antecedência.

“Terremotos são uma ameaça constante para comunidades ao redor do mundo. Embora já sejamos bons em prever onde eles provavelmente ocorrerão, ainda enfrentamos consequências devastadoras quando acontecem”, disseram representantes do Google em comunicado.

“E se pudéssemos dar às pessoas alguns preciosos segundos de aviso antes de o tremor começar?”, ponderam. “Esses segundos podem ser suficientes para descer de uma escada, afastar-se de objetos perigosos e se proteger.”

Desafios, obstáculos, críticas

Apesar da inovação, os pesquisadores enfrentaram desafios técnicos importantes. A principal limitação é que os acelerômetros dos celulares não são tão precisos quanto os sismômetros tradicionais.

Principal limitação do sistema do Google é que os acelerômetros dos celulares Android não são tão precisos quanto os sismômetros (Imagem: Pe3k/Shutterstock)

Para compensar, o sistema do Google aproveita o grande número de dispositivos Android existentes e o registro automático dos dados de movimento.

Para garantir alertas confiáveis, foi necessário ajustar os dados considerando as diferenças entre os dispositivos, bem como as particularidades regionais, como o tipo de solo e as construções. Esses fatores influenciam a forma como os tremores são percebidos e registrados pelos aparelhos.

Até março de 2024, o AEA havia sido implementado em países como Grécia, Turquia, Estados Unidos, Japão e Indonésia, emitindo um total de 1.279 alertas.

Segundo os usuários, 85% das pessoas que sentiram terremotos receberam alertas – 36% vieram antes do tremor, 28% durante e 23% depois.

Apenas três alertas foram falsos, provocados por tempestades ou eventos de vibração em massa.

Leia mais:

Terremoto na Rússia é o sexto maior já registrado na história

Os 5 maiores (e piores) terremotos da história

Por que não têm terremotos no Brasil?

Ainda assim, o sistema apresenta limitações, especialmente em terremotos de grande magnitude. Um exemplo foi o subdimensionamento dos tremores que atingiram a Turquia em 2023, causado por falhas nos algoritmos e métodos de coleta. Isso foi corrigido depois.

Esse tipo de falha levanta debates sobre o papel de empresas privadas no controle de sistemas de alerta cruciais. Mas o Google afirma que seu sistema deve apenas complementar – e não substituir – os sistemas oficiais.

O post Como o Google transformou celulares Android em sensores de terremotos apareceu primeiro em Olhar Digital.