Como é a vida na Estação Espacial Internacional e o que se faz lá

Uma nova missão espacial deve renovar a tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) nos próximos dias. A missão Crew-11 deveria ter sido lançada nessa quinta-feira (31/7), mas acabou sendo adiada cerca de um minuto antes da decolagem por conta do excesso de nuvens. A nova tentativa está marcada para esta sexta-feira (1°/8).

Se o lançamento ocorrer desta vez, quatro astronautas devem ir com a cápsula Dragon, da SpaceX, em direção à ISS e a previsão é que eles cheguem à estação no domingo. Esta é a 11ª missão de rotação de tripulação e a 12ª de voo espacial humano da Nasa para a ISS.

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A nave deixará os astronautas americanos Zena Cardman e Mike Fincke, o japonês Kimiya Yui e o russo Oleg Platonov no laboratório orbital para uma missão científica. Eles permanecerão cerca de seis meses em órbita.

Após um breve período de transição, a mesma nave será usada para trazer de volta alguns dos cientistas que atualmente estão em órbita: os americanos Anne McClain e Nichole Ayers, o japonês Takuya Onishi e o russo Kirill Peskov, que devem pousar nos Estados Unidos nos próximos dias.

Os membros da tripulação da missão Crew-11 tentaram embarcar na quinta (31/7), sem sucesso

Tripulação diversa para compor os testes

Os quatro astronautas da Crew-11 se juntam a outras equipes já em operação. Em média, a tripulação varia de quatro a oito pessoas.

A estação, em atividade desde 2000, funciona como um laboratório global. A estrutura flutua a aproximadamente 400 quilômetros da superfície. Ela pesa em torno de 450 toneladas e tem cerca de 380 m² de área útil — sem contar a imensa área dos seus painéis solares geradores de energia.

Agências espaciais de diferentes países compartilham estrutura, dados e responsabilidades técnicas. O Brasil fez parte das equipes para implementar a estrutura, mas não cumpriu os prazos contratuais disponíveis. Desde 2008 o país não é mais demandado para dar ajudas ao projeto.

Durante a missão, os novos integrantes do time darão continuidade a testes com robôs, inteligência artificial e biologia. Os resultados ajudarão a Nasa em programas como o Artemis, que prevê o retorno de humanos à superfície da Lua nos próximos anos.

“A presença humana conduzindo estes experimentos é essencial. Ela permite ajustes em tempo real nos experimentos. Alguns dos testes com ligas metálicas, crescimento celular e comportamento de fluidos na ISS ajudaram a desenvolver novas tecnologias e tratamentos médicos aqui na Terra”, explica o pesquisador Douglas Galante, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) apoiado pelo Instituto Serrapilheira.

Rotina na Estação Espacial Internacional

A vida na ISS segue cronograma rigoroso. Cada astronauta trabalha cerca de 8,5 horas por dia, realiza exercícios físicos, faz refeições e mantém contato frequente com a Terra. Os fins de semana, porém, são mais flexíveis. Nesses dias, os astronautas têm tempo livre, que em geral utilizam para atualizar redes sociais, ler ou se comunicar com familiares.

Como é o trabalho dos astronautas?

A estação abriga mais de 300 experimentos simultâneos. As pesquisas envolvem áreas como medicina, física e engenharia. Muitos testes são possíveis apenas no ambiente de microgravidade, onde o comportamento dos materiais e do corpo humano muda. Veja alguns exemplos:

Medicina espacial: estudo de alterações ósseas e musculares que beneficiam tratamentos de osteoporose e sarcopenia na Terra; pesquisas sobre crescimento de tecidos em microgravidade para medicina regenerativa.
Ciência de materiais: desenvolvimento de ligas metálicas e cristais com propriedades impossíveis de obter na Terra, com aplicações em eletrônicos e semicondutores.
Biologia: cultivo de plantas em microgravidade para agricultura espacial e melhor compreensão do crescimento vegetal terrestre.
Física fundamental: experimentos sobre combustão, fluidos e comportamento de partículas em ambiente sem a convecção gravitacional.

O que os astronautas comem?

A alimentação no espaço exige controle rigoroso já que os estoques da ISS são limitados. A comida é enviada inteiramente da Terra e cada tripulante ingere, em média, 3,8 kg de comida ao dia, incluindo água e líquidos.

No geral, os astronautas consomem alimentos desidratados estilo macarrão instantâneo e os embalados e prontos para o consumo. Mas não são simplesmente ultraprocessados: a dieta deles atende a requisitos nutricionais e é adaptada para as mudanças de paladar que ocorrem fora de órbita, exigindo reforço dos temperos, já que a percepção de sal e outros condimentos se altera com a altitude.

Esteira adaptada para corrida na Estação Espacial foi usada pela astronauta Suni Williams

Desafio para mente e corpo

Ficar tantos meses no espaço afeta ossos, músculos e órgãos internos. A perda de massa óssea em gravidade zero é de até 2% a cada mês e os músculos se atrofiam em 20%, especialmente nas pernas. Para evitar perdas severas, cada astronauta se exercita por cerca de 2,5 horas por dia.

Há três equipamentos na estação espacial: o ARED, para agachamento e musculação; o CEVIS, um elíptico adaptado para a gravidade zero, e o T2, uma esteira adaptada. Esses treinos combatem atrofia muscular e perda de densidade óssea. Sem exercícios diários, o retorno à gravidade terrestre poderia causar lesões graves e dificuldades de locomoção.

A redistribuição de fluidos também pode causar inchaço na face e alterações na visão pela alteração do funcionamento do sistema cardiovascular. Os danos, porém, não são apenas da saúde física, mas também mental. A convivência com a mesma equipe, em espaço restrito, leva à tensão constante, agravada pela distância com os familiares.

Além disso, há uma percepção fragmentada de tempo. Os astronautas enfrentam alterações no ritmo biológico já que o Sol nasce e se põe 16 vezes por dia a bordo da estação.

Para lidar com o estresse, a estação oferece apoio psicológico e momentos de lazer. Jogos, filmes e chamadas de vídeo ajudam a manter o equilíbrio mental. A comunicação constante com a Terra, não só para relatar os experimentos testados, é parte essencial da estabilidade emocional da tripulação.

Como é a volta para a terra?

O retorno exige readaptação ao peso da gravidade e leva em média 45 dias. A primeira fase da recuperação começa no mesmo dia, com caminhadas leves. Nas semanas seguintes, os astronautas passam por treinos para restaurar o equilíbrio, a força e a coordenação motora.

A última fase foca em adaptar o corpo às atividades do dia a dia. O processo é individualizado, dependendo do tempo no espaço e da resposta física de cada astronauta. O acompanhamento médico segue por meses após o retorno.

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