A pressão da concorrência internacional no mercado de aço brasileiro impactou diretamente a Gerdau, que anunciou o desligamento de cerca de 1,5 mil colaboradores entre janeiro e julho deste ano, principalmente nas cidades paulistas de Pindamonhangaba e Mogi das Cruzes.
O CEO da empresa, Gustavo Werneck, comunicou nesta sexta-feira, 1º, que novas demissões não estão descartadas, caso o governo federal não adote medidas de proteção à indústria nacional contra o aço importado, em especial o vindo da China.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, a entrada de produtos estrangeiros com preços inferiores e menos exigências regulatórias afeta a competitividade da Gerdau no país.
“Desde o início do ano até agora, fim do mês de julho, nós já promovemos o desligamento de cerca de 1.500 pessoas que têm as suas famílias, que têm um impacto muito grande na sociedade”, afirmou Werneck. Ele acrescentou que, com a adoção de medidas de defesa comercial pelo governo, a empresa pode reativar as operações das usinas afetadas.
Werneck declarou ainda que a companhia vai reduzir os investimentos planejados no Brasil, embora o plano global de R$ 6 bilhões para este ano esteja mantido. Os detalhes sobre o novo valor de aportes serão apresentados em outubro, durante o próximo dia do investidor.
CEO da Gerdau critica ineficiência das medidas federais: “Lidamos com concorrência desleal”
Ainda em entrevista ao Valor, o executivo criticou a ineficácia das cotas e tarifas atuais para conter a entrada de aço do exterior.
“Por conta da ineficácia do sistema de cotas e da ineficiência das autoridades brasileiras para evitar um ambiente de concorrência desleal, tomamos a decisão de reduzir os investimentos no Brasil”, explicou Werneck.
Segundo cálculos da Gerdau, o país deve deixar de arrecadar cerca de R$ 7 bilhões em impostos no setor do aço em 2025, em razão do crescimento das importações. O cenário levou a empresa a se juntar à Usiminas, que também anunciou revisão negativa em seus investimentos no país.
Empresário já havia se mostrado preocupado com o avanço do mercado chinês
Em janeiro, Werneck afirmou ao jornal Folha de S. Paulo defendeu a necessidade de medidas mais duras contra a China, depois de as cotas de importação adotadas no ano passado não terem contido o avanço do aço chinês no país.
“Essa medida foi totalmente ineficaz”, disse. “Não se reduziu a importação de aço. Estamos neste momento debatendo com o MDIC como endurecer um pouco mais. Os debates já estão na mesa. A expectativa agora é que eles [o governo Lula] tragam uma solução. Agora, a bola está com eles.”
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Na ocasião, o empresário diz que a Gerdau não quer medidas de proteção, nem nada que esteja desalinhado com as práticas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Deseja, porém, uma ação de defesa à indústria nacional.
Uma solução, sugere o executivo, seria acabar com as cotas e taxar todo o aço que entrar no Brasil. No ano passado, o governo subiu para 25% o imposto de importação para aços que ultrapassem as cotas no país. Atualmente, a China responde por cerca de um quarto do aço que entra no Brasil.
Werneck avaliou de forma positiva a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, argumentando que o retorno do republicano ao poder poderia favorecer investimentos da Gerdau no país, devido à sua postura contrária ao avanço chinês. Segundo ele, o cenário global está se reorganizando para conter as exportações da China, enquanto o Brasil, na sua visão, permanece em desvantagem.
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