Conheça o vulcão africano com o maior lago de lava do planeta

Dentre as florestas tropicais da República Democrática do Congo (RDC), está assentado um gigantesco vulcão de 3,4 mil metros de altura: o Monte Nyiragongo. Conhecido por conter o maior lago de lava do mundo em volume, ele foi responsável por grandes desastres nas últimas décadas devido ao seu magma ultrarrápido.

Nyiragongo é parte da cadeia de montanhas Virunga, localizada no Parque Nacional de Virunga, considerado um Patrimônio Mundial pela UNESCO. Essa complexa estrutura conta com oito vulcões que se estendem pela paisagem tropical das florestas verdejantes do centro da África.

Mesmo em períodos de calmaria, o interior da cratera do imponente vulcão congolês permanece como uma caldeira fervente de magma. Com 250 metros de diâmetro e 600 metros de profundidade, ela é tão profunda que poderia engolir um arranha-céu inteiro, como se fosse uma imensa banheira de lava.

Ao lado de seu “irmão” geológico, o Monte Nyamuragira, o Nyiragongo forma uma das duplas vulcânicas mais ativas de todo o continente africano. Juntos, eles respondem por cerca de 40% de todas as erupções registradas na África, segundo o Observatório da Terra da NASA.

Aos pés da cordilheira está a cidade de Goma, uma metrópole de 2 milhões de habitantes que surgiu como uma vila e cresceu exponencialmente no último século. Sua história é marcada pelos fenômenos vulcânicos, tendo casas construídas acima das cinzas e do magma solidificado.

A cadeia de montanhas Virunga é composta por oito vulcões principais. Três deles, o Nyiragongo, o Nyamuragira e o Mikeno, se encontram no território do Parque Nacional de Virunga. (Imagem: 3ffi / Shutterstock)

Vulcão foi responsável por erupções históricas nas últimas décadas

Em 2002, o Nyiragongo deixou uma cicatriz profunda na história da República Democrática do Congo ao protagonizar uma de suas erupções mais devastadoras. Em poucas horas, rios de lava incandescente avançaram sobre a cidade de Goma, destruindo bairros inteiros, estradas e infraestruturas essenciais. Aproximadamente 350 mil moradores foram forçados a fugir.

Segundo estimativas, de 10 a 15 milhões de metros cúbicos de lava invadiram a cidade, arrasando completamente cerca de 14 mil casas, do chão ao telhado. O avanço do magma provocou explosões em postos de combustível e mergulhou a cidade em um cenário de caos. Mais 120 mil pessoas ficaram desabrigadas e 250 morreram.

Recentemente, em maio de 2021, o Nyiragongo voltou a entrar em erupção, reacendendo o temor na região. A lava avançou novamente sobre áreas da cidade, destruindo parte da infraestrutura local e cortando uma importante estrada que leva ao norte do país, um impacto que comprometeu o transporte de mercadorias e o abastecimento de alimentos. 

Cerca de 400 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas, e ao menos 32 morreram em decorrência do desastre. Organizações como a Cruz Vermelha e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), juntos a população local, ajudaram a reconstruir parte da cidade. Ainda assim, diversos moradores sentem os efeitos do desastre até hoje.

A cidade de Goma está entre a cordilheira de vulcões e o Lago Kivu, na fronteira entre a RDC e Ruanda. (Imagem: Marti.Morini / Shutterstock)

Lava do vulcão congolês é ultrarrápida, chegando a 60km/h

O alto grau de destruição das erupções do Nyiragongo é devido à composição química de sua lava. A chave está na sílica, um dos principais elementos presentes nas rochas vulcânicas.

Quando o magma contém altos níveis de dióxido de silício, uma combinação da sílica com o oxigênio, ele se torna mais espesso e lento. Isso acontece porque ela forma cadeias longas e entrelaçadas que aumentam a viscosidade do magma, dificultando seu fluxo.

A lava do Nyiragongo, porém, é pobre em sílica e rica em minerais como o ferro e o magnésio, o que lhe confere uma fluidez única. Essa composição, combinada com as encostas íngremes do vulcão, resulta em fluxos magmáticos velozes. As correntes de lava do gigante congolês já chegaram a velocidades de até 60km/h, tão rápida quanto uma motocicleta popular, segundo o Observatório da Terra da NASA.

A cratera do Nyiragongo é preenchida por uma lava pouco viscosa e brilhante. Embora perigosa, ela atrai turistas de todo o mundo para subir o vulcão. (Imagem: Margarita Ray / Shutterstock)

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Nyiragongo marca a vida na República Democrática do Congo

Para evitar desastres maiores no futuro, um grupo de cientistas observa os vulcões constantemente. O Observatório Vulcanológico de Goma (OVG) é a única instituição responsável por monitorar o Nyiragongo e avisar a cidade dos perigos iminentes. O grupo coleta dados sísmicos produzidos a cada quatro minutos e mede a temperatura do vulcão a cada dez minutos.

Essas informações são analisadas em tempo real e podem servir de base para decisões emergenciais, como evacuações. Mesmo com limitações tecnológicas e de infraestrutura enfrentadas pelo observatório, seu trabalho é vital para a segurança de milhares de pessoas que vivem sob a sombra desse gigante geológico.

Apesar de sua força destrutiva, o Nyiragongo abriga uma gigante diversidade de vida. Suas encostas são cobertas por florestas tropicais que servem de refúgio para espécies de plantas e animais, algumas raras e endêmicas da região dos Grandes Lagos Africanos.

O vulcão também é um dos principais pontos turísticos da República Democrática do Congo, atraindo aventureiros de todo o mundo. É possível visitá-lo e, com coragem, enfrentar a Trilha do Vulcão Nyiragongo para chegar ao topo, onde o lago de lava borbulha em tons vibrantes, um lembrete poderoso da beleza e do perigo que coexistem nas entranhas da Terra.

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