Um relatório confidencial do Tribunal de Contas da União (TCU) alerta para o fato de que os Correios enfrentam uma crise financeira sem precedentes, o que coloca em risco sua sustentabilidade a longo prazo.
Segundo a Veja, que teve acesso ao documento, a auditoria do TCU cita os déficits crescentes, a gestão deficiente e as dificuldades para honrar compromissos, quadro que ameaça a continuidade dos serviços oferecidos pela estatal.
“Devido à queda de demanda por produtos do monopólio e à perda de market share do segmento de encomendas, pode haver uma tendência de queda de receita, levando à insustentabilidade econômico-financeira no longo prazo, impactando a capacidade de a estatal prestar o serviço postal universal e a sua independência de recursos do Tesouro Nacional”, diz a auditoria, segundo trecho transcrito pela revista.
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No governo Lula, a estatal — que teve lucro recorde no governo de Jair Bolsonaro — voltou a apresentar prejuízos e registrou um rombo recorde. Bolsonaro indicou a intenção de privatizar os Correios, mas o governo petista tirou a empresa da lista das desestatizações.
Segundo a Veja, a análise do TCU destaca que, entre novembro de 2019 e o mesmo período de 2023, quase 43% das 5,3 mil licitações realizadas pelos Correios tiveram registros de possíveis irregularidades, como indícios de conluio, seleção de fornecedores com restrições e participação de apenas um licitante. Essas situações reforçam o cenário de vulnerabilidade administrativa e financeira apontado pelos auditores.
Uso de empréstimos e desafios estratégicos
Além disso, a estatal comunicou ao tribunal que, em 2024, parte de um empréstimo contratado seria usada para cobrir déficits previdenciários, e não para investimentos. O plano estratégico dos Correios para 2023 a 2027 reconhece que “manter-se no mercado é o atual desafio estratégico da ECT [Empresa de Correios e Telégrafos]”, conforme registrado no relatório acessado pela reportagem.
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Mesmo tendo atendido 99,7% dos municípios brasileiros e realizado 11,7 milhões de entregas diárias em 2022, a empresa enfrenta desafios diante da digitalização e da concorrência internacional. Os Correios são citados pelo TCU como detentores de cultura digital limitada, baixa capacidade de inovação em serviços digitais e infraestrutura ainda predominantemente analógica.
Perda de mercado e agravamento da crise
O TCU observa que o segmento de encomendas, responsável por pouco mais de 51% da receita dos Correios, vem perdendo participação no mercado ano após ano, especialmente com o avanço de grandes empresas estrangeiras e a demanda crescente por prazos e preços mais competitivos.
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A situação se agrava com o prejuízo de R$ 1,7 bilhão registrado no primeiro trimestre de 2025 e a aprovação, pelas atuais diretorias, de uma suspensão de pagamentos no valor de R$ 2,75 bilhões referentes a tributos, encargos previdenciários, planos de saúde e outros benefícios.
Resposta dos Correios
Em resposta, os Correios informaram que, “diante de um cenário desafiador — com mudanças regulatórias que impactaram o segmento internacional e reduziram receitas —, somado aos efeitos do período de subinvestimentos entre 2019 e 2022, os Correios estruturaram um plano bianual de reequilíbrio”.
A estatal explicou ainda ter ampliado os investimentos anuais de R$ 447 milhões, média entre 2019 e 2022, para mais de R$ 792 milhões em 2023 e 2024, além de assumir com o governo federal o compromisso de cortar R$ 1,5 bilhão em despesas até o final de 2025. Segundo a nota, “as iniciativas, previstas para 2025 e 2026, permitirão a retomada gradual do equilíbrio operacional e dos resultados da empresa”.
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