A empresa que tentou fabricar celulares nos EUA — e falhou

Houve um tempo em que smartphones carregavam em si a etiqueta “fabricado nos Estados Unidos”. Os aparelhos fizeram parte de uma estratégia ousada da Motorola em 2013 — que não teve sucesso na empreitada. Mas histórias de fracasso podem ensinar lições valiosas.

O plano antigo da empresa americana foi resgatado recentemente como contra-argumento aos desejos do presidente Donald Trump de fabricar aparelhos da Apple nos EUA. A ideia não agrada o CEO Tim Cook, que, aliás, tem priorizado a Índia como polo de produção desde o início da guerra tarifária com a China.

“Definitivamente, havia custos mais altos, o que era desafiador”, disse Dennis Woodside, ex-CEO da Motorola e atual CEO da provedora de serviços de software empresarial Freshworks à CNN. “E você está lidando com uma cadeia de suprimentos muito fragmentada.”

Apenas 500.000 unidades haviam sido vendidas no terceiro trimestre de 2013 (Imagem: IgorGolovniov/Shutterstock)

Relembrando a história da Motorola

À época, a Motorola pertencia ao Google, que decidiu apostar no smartphone Moto X para competir com modelos iPhone e Galaxy. A fábrica instalada em Fort Worth, Texas, produzia aparelhos personalizados pelos consumidores no site da marca — mas operou por apenas um ano após registrar desempenho abaixo do esperado.

“Não era como um experimento científico; tínhamos que ser capazes de fabricar milhões de telefones em um ano porque esse era o mercado em que estávamos”, disse Woodside à reportagem. Apenas 500.000 unidades haviam sido vendidas no terceiro trimestre de 2013, segundo a empresa de análise Strategy Analytics.

Apesar da linha de montagem do Moto X ter sido realizada em solo americano, componentes como a bateria, a tela e a placa-mãe foram adquiridos de fornecedores na Ásia. 

Trabalhadores não estão preparados para linhas de montagem de smartphones nos EUA, diz executivo (Imagem: LuYago/Shutterstock)

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Por que deu errado?

Para Woodside, o maior desafio foi a retenção de funcionários, que, segundo ele, não estavam preparados para o setor. “Provavelmente há centenas de peças (de telefone), e elas são minúsculas”, disse. “E o que não percebemos é que a maioria das pessoas não estava acostumada com esse tipo de trabalho nos EUA. Tivemos que treiná-las.”

A escassez de mão-de-obra qualificada no país é preocupante até os dias atuais: o setor manufatureiro dos EUA perdeu cerca de 11.000 empregos entre junho e julho, de acordo com o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA.

Na China, a situação é completamente diferente, com cerca de 123 milhões de pessoas empregadas na indústria manufatureira, o maior setor econômico do país, segundo um censo publicado em dezembro do ano passado.

Trump pressiona Apple para fabricar iPhone em solo americano (Imagem: Chip Somodevilla/Shutterstock)

Após anos de experiência, Woodside sugere cautela às empresas americanas. “Entender a natureza do produto que você está fabricando e pensar… ‘Será que vamos precisar treinar completamente a força de trabalho para entender este produto específico?’ Isso é algo que não prevíamos”, disse.

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