Em 1930, uma música da dupla Alvarenga e Ranchinho embalava os fãs cantando: “São Paulo da Garoa, São Paulo que terra boa”. Em pouco tempo, o apelido se popularizou devido à chuva fina que costumava cair na grande metrópole. Mas por que chove tanto em São Paulo?
Para dizer a verdade, de uns tempos para cá, parece que a garoa, embora ainda esteja presente, deu mais espaço à tempestade – São Paulo virou também sinônimo de grandes chuvas.
Além das mudanças climáticas, que figuram como marcador importante, a cidade se caracteriza pelo clima tropical de altitude. Campos do Jordão, por exemplo, se destaca como a cidade brasileira mais alta, com 1.628 metros de altitude. Quanto maior a altitude, maior é a pressão atmosférica e a incidência de ventos e chuvas.
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Por que chove tanto em São Paulo?
Buscando investigar por que chove tanto em São Paulo, um estudo robusto da Revista Pesquisa Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) indica que a chuva aumentou 30% na cidade em um recorte de 80 anos.
Para se ter uma ideia, em 1930 São Paulo registrava uma média anual de quase 1.200 milímetros e saltou para 1.600 nos anos 2000. “Fazendo uma soma linear, é como se todo ano tivesse chovido 5,5 milímetros a mais do que nos últimos 12 meses”, afirma o estudo.
A questão central é que não está chovendo um pouco mais a cada dia – o que seria praticamente imperceptível – mas a quantidade de chuvas moderadas a fortes cresceu, provocando tempestades no inverno, conhecido por ser uma estação de tempo seco. Por outro lado, o número de dias com garoa, chuva com índice menor do que 5 milímetros, diminuiu.
Ou seja, São Paulo caminha para um futuro de extremos, alternando períodos com chuvas intensas e outros com falta de chuva ao longo do ano. Além das mudanças climáticas, existem outras razões para esse aumento no índice pluviométrico – unidade que mede a quantidade de milímetros de chuva.
“A urbanização e o chamado efeito ilha de calor, além da poluição atmosférica, parecem ter um papel importante na alteração do padrão de pluviosidade em São Paulo, em especial nas estações já normalmente mais úmidas, como a primavera e verão”, afirma Maria Assunção da Silva Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica, e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.
O efeito ilha de calor é um fenômeno típico das grandes cidades. A concentração de prédios, concreto e ruas de asfalto retém o calor para depois dissipá-lo lentamente. Esse processo somado ao número reduzido de áreas verdes favorece as temperaturas mais altas, explicando por que chove tanto em São Paulo.
Por que as chuvas caem no fim de tarde?
Quem mora em São Paulo já presenciou diversas vezes chuvas torrenciais que se aproximam não pela manhã, mas no fim da tarde, começo da noite, atrapalhando o trânsito e tumultuando a volta para casa. E essa coincidência tem uma explicação científica.
A temperatura superficial do oceano atlântico no litoral paulista passou de 21,5 °C para 22,5 °C entre os anos 1950 e 2000. Um grau parece não significar muita coisa, mas esse “leve” aquecimento aumentou a taxa de evaporação da água do mar – que torna a brisa marinha ainda mais carregada de umidade.
E é no fim da tarde que essa brisa marinha, cheia de calor e umidade, vinda Baixada Santista, termina de subir a serra e atinge a capital.
Uma das medidas eficazes apontadas pelos pesquisadores seria aumentar a área verde da região em 25%. Segundo as simulações realizadas, essa mudança poderia ser responsável pela diminuição da temperatura média, uma redução que iria de 1,5 °C a 2,5 °C. Um clima mais ameno reduziria a potência das ilhas de calor e consequentemente traria menos chuva para São Paulo.
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