Tucker: a lenda de um empreendedor

Preston Tucker (1903-1956) era um engenheiro americano que pensava além do seu tempo. Durante a Segunda Guerra Mundial ele desenvolveu alguns veículos armados para o solo, o ar e o mar.

O sonho que o tornou famoso veio após a guerra. Tucker concebeu um carro futurista com novidades que não existiam na época — cintos de segurança, faróis que acompanhavam a direção do carro, motor traseiro, freios a disco, pneus sem câmeras, teto solar, chassi reforçado para proteção dos passageiros, janelas que se soltavam em caso de acidente.

E assim nasceu o Tucker 1948, também conhecido como Torpedo. Seu design avançado para a época encantou muita gente. Tucker então formou o que a gente chamaria hoje de start-up — uma empresa pequena, ágil, trabalhando em escala pequena para os padrões automobilísticos americanos.

É nesse ponto da história que começa o filme Tucker, um Homem e seu Sonho (“Tucker, The Man and His Dream”, de 1988, disponível pela Amazon Prime). É uma das obras menos conhecidas de Francis Ford Coppola. Tem sua marca de grande produção e a fotografia restaurando os tons da época.

O roteiro de Arnold Schulman e David Seidler foca no otimismo de Tucker (Jeff Bridges), estampado no seu sorriso permanente. Mostra também sua falta de senso político para lidar com as autoridades. Com apoio de sua família e um punhado de fiéis colaboradores, o empreendedor não admitia uma derrota.

Preston Tucker conseguiu abrir uma fábrica e construir 50 Tuckers 1948. Mas foi levado aos tribunais por um lobby formado pelas “três grandes” da indústria automobilística americana, Ford, Chevrolet e Chrysler. É nas considerações finais de Tucker para o júri, prestes a ser preso por pressão de burocratas, que o personagem encontra seu momento mais brilhante:

“Quando eu era um garoto, eu costumava ler tudo sobre Edison, os irmãos Wright, (Henry) Ford, eles eram meus heróis. Nós inventamos o sistema de livre iniciativa onde ninguém, não importa quem fosse, de onde viesse, a que classe pertencesse… se viesse com uma ideia melhor, sobre qualquer coisa, não existiria limites o quanto longe pudesse ir. O solitário, o sonhador, o maluco que viria com alguma ideia doida que provocasse a risada de todos e que mais tarde revolucionaria o mundo. (…) Os burocratas, preferem matar uma nova ideia do que sair do comodismo. Se Benjamim Franklin estivesse vivo hoje, seria preso por empinar uma pipa sem licença”.

É um grande filme, muito bem produzido, com um excelente elenco — Joan Allen, Martin Landau, Christian Slater, Dean Stockwell e Lloyd Bridges (o pai de Jeff). Mas o astro principal é o carro de formas arredondadas, até hoje preservado por colecionadores.

Um detalhe que o filme não conta é que nos seus anos finais Preston Tucker veio ao Brasil para tentar desenvolver uma versão esportiva do seu carro. Como legalmente ele não podia usar o próprio nome, o projeto foi chamado de “Carioca”. Nunca saiu do papel.

O post Tucker: a lenda de um empreendedor apareceu primeiro em Revista Oeste.