Nos confins do Sistema Solar, a NASA achou um objeto intrigante

Em 2006, a NASA lançou uma de suas mais ambiciosas missões: a New Horizons. A sonda foi enviada em uma longa jornada rumo aos limites do Sistema Solar para estudar Plutão, o planeta anão situado além de Netuno, e coletar dados inéditos sobre essa região gelada e pouco explorada do espaço.

Durante sua jornada, a nave teve de fazer uma manobra gravitacional em Júpiter, o que aumentou sua velocidade para 14 mil km/h. A passagem pelo gigante gasoso durou cerca de quatro meses, período em que a equipe da missão aproveitou para registrar imagens detalhadas e coletar dados sobre suas luas, sistema de anéis e atmosfera.

A chegada à Plutão aconteceu em julho de 2015. Ao se aproximar do planeta anão, a New Horizons coletou dados inéditos sobre sua superfície, luas e atmosfera. Um dos marcos da missão foi a resolução de um antigo mistério: o verdadeiro tamanho de Plutão. A equipe concluiu que ele possui cerca de 2.370 quilômetros de diâmetro, valor maior do que o estimado anteriormente.

Após enviar as informações captadas para a Terra, a sonda foi redirecionada para o Cinturão de Kuiper, uma região repleta de asteroides nos limites do Sistema Solar. O local é pouco conhecido pelos astrônomos e pode revelar informações importantes sobre a origem da Terra e de seus planetas vizinhos.

Representação artística do Cinturão de Kuiper. (Imagem: NASA / Divulgação)

Sonda chegou ao objeto mais distante já alcançado pela humanidade

Em 2019, a New Horizon chegou ao Arrokoth, o objeto mais distante já visitado por uma nave. Esse corpo gelado faz parte de um grupo de pequenos planetas e rochas localizados além de Netuno, caracterizados não só pela grande distância em relação ao Sol, mas também por terem permanecido praticamente intocados ao longo da evolução do Sistema Solar.

Segundo dados da NASA, Arrokoth mede 35 quilômetros de altura por 20 de largura. A parcela maior tem um formato considerado “lenticular”, ou seja, achatado como se duas lentes estivessem colocadas lado a lado. O corpo menor é mais arredondado.

A equipe estimou que sua formação ocorreu há 4,5 bilhões de anos, nos primórdios do Sistema Solar. Sua localização remota o manteve preservado, longe da turbulência gravitacional das proximidades do Sol.

Arrokoth, asteroide binário que orbita além de Netuno, no Cinturão de Kuiper. (Imagem: NASA / Divulgação)

Seu nome significa “céu” na língua dos povos Powhatan, nativos americanos que habitavam o estado de Maryland, onde fica atualmente o Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins, local de trabalho da equipe da missão New Horizon. A decisão da NASA foi consentida pelos líderes Powhatan e celebrada pelos cientistas.

“O nome ‘Arrokoth’ reflete a inspiração de olhar para o céu e se maravilhar com as estrelas e mundos além do nosso. Esse desejo de aprender está no cerne da missão da New Horizons, e temos a honra de nos juntar à comunidade Powhatan e ao povo de Maryland nesta celebração da descoberta”, disse Alan Stern, pesquisador principal da missão, em um comunicado da época.

Corpo cósmico em forma de “boneco de neve” surpreendeu astrônomos

Astrônomos definiram Arrokoth como um binário de contato, um sistema formado por dois corpos que colidiram e permaneceram unidos. Ele também pertence à classe dos planetesimais: pequenos blocos primordiais que, segundo as teorias modernas, se agregaram para dar origem aos planetas.

Ele tem o formato de um “boneco de neve”, com uma rocha maior encostada sobre uma menor. Segundo a equipe, é como se as duas rochas estivessem “se beijando” devido à suavidade de seu contato, não havendo evidências de que a fusão dos dois objetos tenha sido violenta.

“Nunca vimos nada parecido em nenhum lugar do Sistema Solar. Isso está levando a comunidade da ciência planetária de volta à prancheta para entender como os planetesimais, os blocos de construção dos planetas, se formam”, comentou Stern.

A dupla de rochas parece formar a “cabeça” e o “corpo” de um boneco de neve. (Imagem: NASA / Divulgação)

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Duas grandes rochas se juntaram em uma caminhada lenta

Os pesquisadores acreditam que Arrokoth tenha se formado pela instabilidade gravitacional. Nesse fenômeno, nuvens de partículas em um disco protoplanetário — uma estrutura de gás e poeira que orbita estrelas jovens e dá origem aos planetas — se tornam densas o suficiente para colapsar sobre sua própria gravidade, formando aglomerados que se unem e dão origem a corpos maiores.

Após o colapso e união, dois objetos maiores não colidiram imediatamente, mas começaram a orbitar um ao outro lentamente. Esses corpos se aproximaram até se chocarem de forma extremamente suave – menos de 1 m/s (a velocidade de uma caminhada), segundo um estudo de 2023. Isso formou a estrutura de “boneco de neve” de Arrokoth.

Modelo em 3D do Arrokoth. (Imagem: ( NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory/Southwest Research Institute/Roman Tkachenko)

Os astrônomos acreditam que novos estudos sobre esse corpo cósmico são fundamentais para expandir a compreensão sobre as origem dos planetas ao redor do Sol. Segundo Stern, os objetos com processo de formação semelhante encontrados no Cinturão de Kuiper poderão aprimorar as atuais teorias de formação planetária.

A NASA planeja manter a missão New Horizons ativa até que a sonda ultrapasse o cinturão de objetos rochosos, o que deve ocorrer entre 2028 e 2029. Até lá, ela continuará servindo como os olhos e ouvidos da humanidade na exploração dos mistérios dos confins do Sistema Solar.

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