Veja asteroides capturados por sonda que vai investigar objeto espacial atingido pela NASA

Lançada em 7 de outubro de 2024, a missão Hera, da Agência Espacial Europeia (ESA) passou perto de Marte em março deste ano enquanto seguia em direção ao alvo principal: o sistema duplo de rochas espaciais de Didymos e Dimorphos. Na ocasião, a espaçonave usou a gravidade do Planeta Vermelho para atravessar a região conhecida como Cinturão de Asteroides, onde aproveitou para testar seus instrumentos.

Em um comunicado, a ESA divulgou imagens capturadas pela sonda durante esses testes, que mostram as rochas (1126) Otero e (18805) Kellyday. Segundo a agência, além de comprovar a eficiência da Câmera de Enquadramento de Asteroide (AFC), o teste também serviu como demonstração de operações ágeis de naves espaciais que podem ser úteis para a defesa planetária.

Esse momento é celebrado pela equipe, pois embora Hera já tenha feito outras capturas, como da Terra, da Lua e de Marte, esta foi a primeira vez que ela registrou imagens de asteroides. 

A passagem da sonda Hera por Marte serviu como impulso no caminho para o sistema binário de asteroides Didymos, além de proporcionar à espaçonave a chance de testar seus intrumentos. Crédito: ESA-Science Office

Sobre a missão Hera:

Hera foi lançada para investigar em detalhes um asteroide que teve a órbita alterada pela NASA em 2022;

Esse desvio de rota foi provocado pela colisão da sonda DART (sigla em inglês para Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo) contra Dimorphos, a “lua” do asteroide Didymos;

O objetivo da missão DART foi testar um novo método de defesa da Terra que poderá ser usado em eventuais casos de ameaça real ao planeta;

A sonda Hera tem previsão de chegar ao destino no fim de 2026, para fazer uma avaliação in loco das consequências do impacto, coletando informações-chave como o tamanho da cratera formada em Dimorphos, bem como a massa, a composição e a estrutura interna da rocha;

Esses dados ajudarão a compreender o experimento de deflexão DART, para que a técnica possa ser repetida se um dia for necessário.

Asteroides escolhidos representam desafio semelhante ao alvo da missão

Segundo Giacomo Moresco, engenheiro de Dinâmica de Voo do Centro Europeu de Operações Espaciais da ESA, a equipe tem aproveitado a “fase de cruzeiro” para ensaios estratégicos. “Podemos usar esse período para testar procedimentos e nos preparar para a chegada, como tentar observar asteroides próximos”.

O Cinturão de Asteroides, localizado entre Marte e Júpiter, é surpreendentemente espaçoso. As rochas estão separadas por milhões de quilômetros, o que dificultou encontrar alvos adequados para a Hera fotografar. A equipe precisou identificar quais asteroides poderiam ser capturados, programar a trajetória e garantir que a sonda seguisse uma sequência precisa de observações – um planejamento que levou semanas.

Otero e Kellyday foram os escolhidos porque, embora ambos sejam pouco conhecidos e distantes, eles representaram um desafio semelhante ao que a espaçonave enfrentará ao localizar Didymos e Dimorphos pela primeira vez, quando também aparecerão como pontos fracos de luz no céu.

ESA’s Hera mission has spotted its first asteroids!

Hera is on the way to the Didymos binary asteroid system to explore the aftermath of humankind’s first attempt to move an asteroid.

Though faint, these observations are very encouraging for the performance of Hera’s camera. pic.twitter.com/pUYDxTyHwl

— ESA’s Hera mission (@ESA_Hera) August 6, 2025

O primeiro teste ocorreu em 11 de maio, com Otero, descoberto em 1929 pelo astrônomo Karl Reinmuth e nomeado em homenagem à dançarina espanhola Carolina Otero. Trata-se de um asteroide raro do tipo A, com coloração avermelhada e presença marcante de olivina, mineral típico do manto de antigos protoplanetas destruídos.

A câmera da sonda Hera acompanhou Otero por três horas, capturando imagens a cada seis minutos. Mesmo a três milhões de quilômetros de distância, foi possível registrar o movimento da rocha contra o fundo de estrelas.

Kellyday, o segundo alvo, foi fotografado em 19 de julho. Esse asteroide foi batizado em referência à estadunidense Kelly Jean Day, que tirou o terceiro lugar na Feira Internacional de Ciência e Engenharia da Intel em 2003, quando era estudante (um dos prêmios para essa colocação era ter um asteroide batizado com seu nome). 

Para a Hera, Kellyday era 40 vezes mais difícil de detectar que Otero, testando ao limite a sensibilidade de seus sensores e a capacidade de processamento de imagens. Ainda assim, a equipe conseguiu registrá-lo.

More information at:https://t.co/8TF4rLvmEZ

Asteroid (18805) Kellyday 👇 pic.twitter.com/q3bIQ7qzJM

— ESA’s Hera mission (@ESA_Hera) August 6, 2025

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Sonda Hera pode ser usada para examinar objetos interestelares

O sucesso desses dois testes foi um marco para a missão, ao certificar que a AFC pode localizar e acompanhar corpos celestes pouco visíveis, preparando-se para a fase crítica da aproximação a Didymos e Dimorphos.

Além disso, a experiência abre novas possibilidades para a sonda Hera. Agora que os engenheiros sabem como reorientá-la e programá-la para capturar alvos fracos, ela poderá monitorar asteroides recém-descobertos que possam representar risco à Terra. Isso permitiria calcular suas órbitas e prever possíveis colisões.

Outra aplicação seria observar objetos interestelares, como o cometa 3I/ATLAS, que surgem inesperadamente no Sistema Solar e exigem respostas rápidas para coleta de dados. A capacidade de reagir em pouco tempo a novos eventos espaciais torna a Hera uma ferramenta estratégica para a astronomia e para a segurança planetária.

Cometa interestelar 3I/ATLAS registrado em 21 de julho de 2025 pelo Telescópio Espacial Hubble, a 445 milhões de quilômetros da Terra. Missão Hera demonstrou capacidade de investiga objetos interestelares como este. Créditos: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA); Processamento de imagem: Joseph DePasquale (STScI)

“Estamos ganhando confiança para a fase científica da missão e, ao mesmo tempo, criando um modelo para observações de resposta rápida no espaço profundo”, explicou Moresco.

Se tudo correr como planejado, em dezembro de 2026 a missão Hera chegará ao seu destino para seis meses de trabalho intenso, analisando em detalhes os dois asteroides e registrando de perto as marcas deixadas pela colisão da sonda DART.

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