Homem desenvolve condição rara após seguir conselho do ChatGPT

Um homem de 60 anos foi internado em um hospital dos Estados Unidos com uma condição rara após seguir conselhos de saúde do ChatGPT. Ele tinha sintomas neuropsiquiátricos e dermatológicos associados ao bromismo, uma intoxicação causada pela ingestão excessiva de brometo. O caso foi publicado na revista Annals of Internal Medicine, em 5 de agosto.

O paciente relatou aos médicos que decidiu remover o cloreto de sódio, o sal de cozinha, da dieta após ler sobre possíveis riscos à saúde. Ao consultar a inteligência artificial, ele recebeu informações de que o sal poderia ser substituído por brometo, mas o gerador de textos não alertou sobre os perigos da troca. O homem ingeriu brometo de sódio por três meses.

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Diagnóstico e evolução clínica

Segundo o relato dos médicos responsáveis pelo atendimento, exames mostraram alterações nos níveis de eletrólitos e indícios de pseudo-hipercloremia. O paciente apresentou paranoia, alucinações e desconfiança em relação à água oferecida, além de sede intensa e insônia.

Após internação, ele revelou que havia feito múltiplas restrições alimentares por conselho dos modelos de inteligência artificial e falou do uso recente de brometo. A confirmação do bromismo ocorreu após avaliação clínica e consulta ao centro de controle de intoxicações.

O tratamento incluiu manejo dos sintomas e reposição de eletrólitos. O paciente se recuperou e, ao voltar às suas faculdades mentais, relatou que havia tido lesões de pele e cansaço persistente no período anterior à psicose, outros dos sintomas característicos da intoxicação por brometo.

Há formas de diminuir o sal, mas usar brometo como aconselhou o ChatGPT não é indicado

O brometo foi utilizado como sedativo no início do século 20 e teve o uso interrompido nos EUA entre 1975 e 1989, justamente devido à toxicidade. Na época, o bromismo era responsável por até 10% das internações psiquiátricas no país.

Ao testar a pesquisa do paciente sobre substitutos para o sal, os médicos obtiveram do ChatGPT a mesma menção ao brometo, sem advertências ou questionamentos sobre o objetivo da substituição.

“A IA não forneceu um aviso de saúde específico, nem perguntou sobre por que queríamos saber [como substituir o sal], como presumimos que um profissional médico faria. Assim, é importante considerar que o ChatGPT e outras IAs podem gerar imprecisões científicas, não têm capacidade para discutir criticamente os resultados e, em última análise, alimentam a disseminação de desinformação”, afirmam os pesquisadores.

Riscos do uso não supervisionado do ChatGPT na saúde

Pesquisadores da Universidade de Washington afirmam que o caso ilustra como interações com inteligência artificial podem gerar desinformação e levar a danos evitáveis. Eles alertam para a ausência de filtros clínicos em respostas de chatbots.

Segundo os pesquisadores, é improvável que um profissional de saúde sugerisse brometo de sódio como alternativa ao sal comum. Eles defendem, no relato do caso, que médicos perguntem aos pacientes sobre o uso de IA como fonte de informações de saúde para avaliar os conselhos dados.

O ChatGPT afirma que suas respostas não possuem verificações. “Modelos como o ChatGPT não têm consciência do risco clínico no sentido humano. Eles geram texto a partir de padrões em dados e, se a informação sobre brometo aparecer em fontes que não enfatizam perigos, o alerta pode simplesmente não ser produzido. O modelo busca na internet, mas nem sempre prioriza fontes médicas atuais. Além disso, diferente de bulas ou de sistemas médicos eletrônicos, que exigem campos de ‘alerta’ antes da prescrição, um modelo de linguagem não é juridicamente obrigado a fazer isso em todas as respostas”, informou o chat ao ser perguntado sobre o caso deste paciente.

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