O narguilé, também conhecido como hookah, shisha ou arguile, se popularizou junto dos vapes entre os jovens como uma forma “mais leve” ou “menos agressiva” de consumir tabaco.
Muitas rodas de amigos já trocaram o cigarro tradicional por uma sessão de narguilé com sabores doces, fumaça abundante e a falsa sensação de segurança. Mas será que essa prática é realmente inofensiva? O que a ciência e a medicina dizem sobre os riscos do narguilé? Spoiler: os danos são bem mais sérios do que parece.
Apesar do apelo cultural e visual do narguilé, estudos médicos apontam que ele pode ser até mais nocivo que o cigarro. E, não, a água do reservatório não “filtra” os componentes tóxicos como muitos acreditam.
Ao longo deste artigo, vamos mergulhar nos principais riscos do narguilé, esclarecer mitos comuns e entender o que a medicina moderna descobriu sobre os efeitos dessa prática no corpo humano. Fumar narguilé pode parecer inofensivo, mas a realidade é bem diferente.
O que é o narguilé?
O narguilé é um dispositivo tradicionalmente utilizado em países do Oriente Médio, Ásia e Norte da África para fumar tabaco aromatizado. O aparelho é composto por um recipiente com água (base), um tubo, um fornilho onde se coloca o tabaco e o carvão, e uma mangueira usada para inalar a fumaça.
O tabaco usado no narguilé, chamado de “tabaco para narguilé” ou “tabaco de shisha”, é geralmente misturado com melaço, glicerina e aromas artificiais, o que torna a fumaça mais densa e saborosa. Mas o que parece inofensivo na superfície esconde um coquetel tóxico que será analisado em detalhes ao longo deste artigo.
Riscos do narguilé
Fumar narguilé não é só “brincar de fazer fumaça”. A cada sessão, que pode durar de 20 a 80 minutos, o usuário inala uma quantidade de substâncias tóxicas equivalente a mais de 100 cigarros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso mesmo: cem. Veja a seguir em detalhes os riscos do narguilé.
Exposição a altas doses de monóxido de carbono
O carvão utilizado para aquecer o tabaco gera grandes volumes de monóxido de carbono (CO), um gás tóxico que, ao ser inalado, substitui o oxigênio no sangue. Isso pode levar a sintomas como tontura, dor de cabeça, náusea e, em casos extremos, intoxicação grave e até morte.
Estudos clínicos apontam que os níveis de CO no sangue de quem fuma narguilé são muitas vezes superiores aos de fumantes de cigarro comum.
Doenças cardiovasculares
A inalação contínua de substâncias tóxicas presentes na fumaça do narguilé aumenta o risco de hipertensão arterial, aterosclerose (acúmulo de placas nas artérias), infartos e AVCs.
A inflamação crônica provocada pelos compostos químicos acelera o envelhecimento vascular e compromete a circulação sanguínea.
Câncer
Sim, o narguilé também causa câncer. A fumaça liberada contém carcinógenos como benzeno, formaldeído, alcatrão e metais pesados. Esses compostos estão diretamente ligados a diversos tipos de câncer, incluindo de pulmão, boca, esôfago e bexiga.
Além disso, como a fumaça do narguilé passa pela boca e garganta em maior volume que a do cigarro, há uma incidência elevada de câncer bucal entre seus usuários.
Doenças respiratórias
O uso frequente do narguilé prejudica os pulmões, provocando bronquite crônica, tosse persistente e redução da capacidade respiratória. O quadro se agrava com o tempo, podendo evoluir para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), uma condição incurável.
Mesmo pessoas que usam o narguilé esporadicamente estão sujeitas a esses efeitos, já que cada sessão pode durar horas e envolver grande volume de fumaça.
Dependência química
O tabaco utilizado no narguilé contém nicotina, substância altamente viciante. Apesar do gosto adocicado e do ritual aparentemente “relaxante”, usuários estão se tornando dependentes sem perceber. E, como o uso é social, isso torna ainda mais difícil o controle e a percepção do vício.
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O mito da “fumaça filtrada”
Um dos argumentos mais usados para justificar o uso do narguilé é a ideia de que a água no recipiente serve como um filtro. Isso é falso.
A água resfria a fumaça, mas não retira os componentes tóxicos como monóxido de carbono, nicotina ou alcatrão. Pelo contrário, a resfriamento faz com que o usuário inale mais profundamente, aumentando a exposição aos poluentes.
Na prática, isso significa que você está puxando mais fumaça, por mais tempo, e com uma falsa sensação de segurança. É o pior dos cenários.
Contágio e riscos compartilhados
Como o narguilé costuma ser compartilhado entre várias pessoas, ele também representa um risco para a transmissão de doenças infecciosas, como:
Hepatite C;
Tuberculose;
Herpes labial;
COVID-19 (em contextos de pandemia).
A mangueira reutilizável, mesmo com bico descartável, não garante higiene total. Em muitos casos, o próprio tubo pode conter micro-organismos que passam de um usuário a outro.
Impacto nos jovens e na percepção social
O apelo visual e os sabores artificiais tornaram o narguilé extremamente popular entre os adolescentes e jovens adultos. Segundo o IBGE, o consumo de narguilé entre estudantes brasileiros aumentou nos últimos anos, com muitos jovens acreditando que ele é “menos prejudicial” que o cigarro.
Essa percepção distorcida é alimentada pela indústria do tabaco e por influenciadores digitais, que promovem o narguilé como um estilo de vida descolado e social. Isso mascara os riscos reais e dificulta ações de prevenção em saúde pública.
Gravidez e fertilidade
Mulheres grávidas que fumam narguilé (ou ficam expostas à fumaça) correm sérios riscos de complicações como:
Parto prematuro;
Baixo peso ao nascer;
Má formação fetal;
Abortos espontâneos.
Homens também não saem ilesos. O uso frequente afeta a contagem de espermatozoides, a motilidade e a qualidade do sêmen, podendo causar infertilidade.
Narguilé eletrônico é mais seguro?
Com o crescimento dos “pod systems” e narguilés eletrônicos, surgiu uma nova discussão: essa versão moderna é mais segura?
A resposta é não. Apesar de dispensarem o carvão, esses dispositivos continuam entregando nicotina e outros compostos químicos potencialmente tóxicos. Os estudos ainda estão em andamento, mas os primeiros resultados já indicam riscos semelhantes aos do narguilé tradicional, especialmente em relação a doenças pulmonares e dependência.
Fumar narguilé pode parecer uma brincadeira inocente ou um ritual social inofensivo. Mas a ciência é clara: os riscos do narguilé são reais, sérios e, muitas vezes, subestimados. A fumaça aromatizada, o apelo cultural e a aparência sofisticada não diminuem os danos que ele causa ao corpo.
Doenças respiratórias, câncer, problemas cardiovasculares, infertilidade, dependência química, tudo isso está no pacote que vem com cada sessão de narguilé.
Se a intenção é relaxar ou socializar, existem maneiras muito mais saudáveis de fazer isso. A longo prazo, a conta cobrada pelo corpo é alta. E não vale o gosto adocicado da fumaça.
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