Você está no trabalho, caminha tranquilamente até a impressora e, ao tocar no equipamento, leva aquele pequeno choque que te faz recuar. Ou, pior, encosta em um amigo e os dois se assustam. A culpada? Um velha conhecida: a eletricidade estática.
Ela acontece quando há acúmulo de cargas elétricas em um corpo — que pode ser você, sua roupa ou até um objeto — e, no momento do contato com outro corpo que tenha carga diferente, a energia acumulada é liberada de uma vez.
“O que chamamos de choque é, na verdade, a descarga dessa diferença de potencial elétrico entre dois corpos. Quando essa diferença é grande o suficiente, o ar, que normalmente isola as cargas, deixa de ser um bom isolante e permite a passagem da corrente”, explica Olavo Leopoldino, diretor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB).
Leia também
Pets em casa? Fique alerta para os riscos relacionados à eletricidade
Célula solar inovadora converte 25% da luz em eletricidade
Terapia com choque se torna boa opção para tratar lesões ortopédicas
Vídeo: lutador leva choque após vitória, sai nadando e surpreende web
O processo mais comum que gera essas cargas no dia a dia é o atrito. É o mesmo princípio que faz os raios riscarem o céu, mas, claro, em uma escala infinitamente menor e muito menos perigosa. Andar com sapatos sobre um carpete sintético, esfregar roupas de tecidos diferentes ou até abrir e fechar portas do carro são situações que criam esse acúmulo de eletricidade.
A umidade do ar também é decisiva. “Quando o ar está seco, ele mantém as cargas isoladas por mais tempo. Já o ar úmido tem mais íons, que ajudam a neutralizar essas cargas, diminuindo as chances de levar um choque”, diz Thales Quirino, professor de física na Academia das Específicas, em Brasília.
Outro fator que intensifica esse pequeno “tranco” é o material com que você entra em contato. Objetos metálicos são ótimos condutores, por isso a descarga é mais perceptível. Mas, apesar da tensão da eletricidade estática poder chegar a milhares de volts, a quantidade de carga é tão pequena que não representa perigo de fato.
“É como as fagulhas de um maçarico: têm alta temperatura, mas pouca energia total, então não causam grandes danos”, compara Leopoldino.
Existem formas simples de reduzir esse incômodo: manter o ambiente um pouco mais úmido, evitar roupas totalmente sintéticas, hidratar a pele e, se possível, usar calçados com solas não condutoras, como a borracha.
Eletricidade estática
A eletricidade estática é um fenômeno elétrico.
O ar seco aumenta muito a chance de levar choque.
Cães e gatos também sentem descargas ao serem acariciados.
A eletricidade estática pode ser evitada pelo aumento da umidade do corpo e do ambiente.
Um dos principais exemplos da eletricidade estática é a formação dos raios e relâmpagos
Estática e choques nem sempre são ruins
Na indústria, a prevenção é levada a sério, com uso de materiais antiestáticos, ionizadores e aterramento para evitar riscos. É por isso que caminhões-tanque têm correntes metálicas arrastando no chão — assim, liberam a carga acumulada pelo atrito com o ar antes que ela cause problemas.
E, acredite, essa “vilã” do dia a dia também é protagonista de soluções inteligentes. Ela está por trás de impressoras eletrostáticas, borrifadores que fixam melhor tintas e desinfetantes e até de algumas telas sensíveis ao toque. Como lembra Quirino, “quando entendemos um fenômeno físico, conseguimos encontrar inúmeras formas de aproveitá-lo”.
No fim das contas, levar um choque estático parece um pouco como receber um cutucão surpresa: não machuca de verdade, mas te deixa esperto. Então, se o ar estiver seco e você for encostar em alguém, talvez valha avisar antes — ou aproveitar para brincar e dizer que é “química entre vocês”.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!