Esqueletos de 1.300 anos na Inglaterra tinham ancestrais africanos

Dois indivíduos que viveram na Inglaterra durante a Alta Idade Média tinham ancestrais vindos da África Subsaariana, provavelmente de um avô ou avó, segundo uma nova análise de DNA. A descoberta, publicada na revista Antiquity, traz evidências genéticas que conectam o sul da Grã-Bretanha medieval a populações da África Ocidental.

As conclusões foram apresentadas por uma equipe de pesquisadores liderada por Duncan Sayer, arqueólogo histórico da Universidade de Lancashire, no Reino Unido. “O DNA mostra que existe uma conexão humana, além da material, que se estende até a África Ocidental”, afirmou Sayer ao Live Science.

O túmulo 47 no cemitério de Updown, em Kent, Inglaterra, continha uma adolescente com ancestralidade africana recente (Imagem: Sayer et al., Antiquity Publications Ltd)

Achados em cemitérios medievais

Os arqueólogos identificaram dois enterramentos datados do século VII, período posterior à queda do Império Romano e marcado pela presença de povos anglo-saxões na ilha. Um deles é de uma adolescente encontrada no cemitério de Updown, em Kent, e o outro de um jovem sepultado em Worth Matravers, em Dorset — ambos no sul da Inglaterra.

Pesquisas anteriores com DNA de outros sepultados nesses locais indicavam ancestralidade predominantemente norte-europeia ou das Ilhas Britânicas e Irlanda. No entanto, a análise do DNA da adolescente de Updown revelou um perfil genético vindo de um continente diferente. O mesmo padrão foi identificado no jovem de Worth Matravers, segundo os dois estudos publicados nesta quarta-feira (13).

O cemitério de Worth Matravers, em Dorset, mostrando os túmulos analisados para aDNA em negrito (Imagem: Sayer et al. / Antiquity)

Mistura genética e origem materna

A investigação mostrou que o DNA mitocondrial, transmitido pela mãe, indica origem no norte da Europa para ambos. Porém, o DNA autossômico, responsável por características herdadas de ambos os pais, apontou entre 20% e 40% de ascendência típica da África Subsaariana. No caso da jovem de Updown, houve afinidade genética com grupos contemporâneos como Yoruba, Mende, Mandenka e Esan.

Modelos estatísticos sugerem que cada um desses indivíduos tinha um avô ou avó com ascendência africana, possivelmente de populações que deixaram a região entre meados do século VI e o início do século VII.

Contexto histórico e integração social

Os pesquisadores destacam que ambos foram sepultados dentro de suas comunidades, o que indica que eram aceitos e valorizados. A adolescente foi enterrada com objetos como uma faca, uma colher, um pente de osso e um vaso decorado originário da Gália franca. Ela também tinha parentes biológicos no mesmo cemitério. Já o jovem de Worth Matravers foi colocado em uma sepultura dupla junto a um homem mais velho, sem relação genética aparente.

Para Tracy Prowse, bioarqueóloga da Universidade McMaster, no Canadá, que não participou da pesquisa, o trabalho apresenta “um bom levantamento das evidências históricas de comércio entre partes da África e países do norte”. Ela observa que a presença de indivíduos com origens diversas nesse período não é surpreendente, considerando achados anteriores, como o da chamada Ivory Bangle Lady, em York.

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Influência de eventos políticos

Sayer, no entanto, acredita que não há continuidade direta entre os indivíduos de origem africana do período romano e os encontrados no século VII. Ele aponta para a conquista da África do Norte pelo Império Bizantino, entre 533 e 535, após a tomada da região pelos vândalos germânicos em 455, como um evento possivelmente relevante para a chegada de pessoas com ascendência africana à Grã-Bretanha medieval.

Segundo os autores, a presença desse DNA inesperado, mas coerente com registros históricos e arqueológicos, oferece novas perspectivas sobre a diversidade populacional e as conexões culturais na Inglaterra da Alta Idade Média.

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