Plantas abrigam formigas rivais em “condomínios” naturais. Entenda

Em meio às florestas tropicais das ilhas Fiji, no Pacífico Sul, pesquisadores identificaram uma planta capaz de abrigar várias colônias de formigas que, em outros ambientes, são inimigas.

A descoberta, publicada na revista Science em 10 de julho, mostra que a arquitetura interna da planta mantém as espécies separadas, permitindo que vivam lado a lado sem se enfrentar.

O estudo foi conduzido por cientistas da Universidade de Durham, no Reino Unido, que analisaram o gênero botânico Squamellaria. Trata-se de plantas epífitas, que crescem no alto das árvores sem contato direto com o solo. Para se desenvolver, elas criam estruturas ocas chamadas domácias, onde as formigas instalam suas colônias.

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Compartimentos para manter a paz

Ao examinar exemplares da planta, os cientistas encontraram até cinco colônias geneticamente distintas ocupando o mesmo tubérculo. Normalmente, essa proximidade resultaria em confrontos letais.

No entanto, tomografias computadorizadas revelaram que as domácias possuem compartimentos separados por paredes espessas e entradas independentes, o que impede qualquer encontro entre as espécies de formigas. Quando essa barreira foi removida em laboratório, os insetos rapidamente entraram em combate.

“A arquitetura compartimentada é essencial para evitar guerras e manter a estabilidade da parceria da planta com todas as formigas que a habitam”, explicam os autores do estudo, Guillaume Chomicki e Susanne Renner, em artigo publicado no The Conversation.
Modelo 3D da planta revela compartimentação. Cada cavidade codificada por cores é um “apartamento de formiga” distinto, isolado dos demais, mas conectado ao exterior

Benefícios para as duas partes

As Squamellaria e as formigas se beneficiam da convivência. Os insetos ganham um local protegido contra predadores, enquanto a planta absorve nutrientes das fezes e dos restos orgânicos acumulados nos túneis.

Além disso, as formigas ajudam na dispersão das sementes, transportando-as para outras árvores. Com o tempo, a planta desenvolve novos compartimentos, possibilitando a instalação de mais colônias.

Segundo os pesquisadores, este é o primeiro registro de animais simbiontes agressivos vivendo juntos no interior de um único hospedeiro vegetal. A estratégia de “condomínio” evita perdas que poderiam comprometer a sobrevivência da planta e garante que ela continue recebendo os nutrientes necessários para crescer.

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