Desde a adolescência, Lalá Mesquita, hoje com 43 anos, convivia com cólicas tão fortes que chegava a passar mais de 20 dias do mês com dor. Ela acreditava que o sofrimento fazia parte da rotina de ser mulher. As primeiras menstruações vieram acompanhadas de desconfortos intensos, dor nas pernas e um cansaço profundo.
Mãe de três filhos — Isabella, Valentina e David —, Lalá sentiu algum alívio apenas durante as gestações, quando parava de menstruar. Fora desse período, a dor se intensificava. A cada ano, o uso de analgésicos e anti-inflamatórios aumentava.
Depois da última gravidez, as crises ficaram insuportáveis: a dor começava antes do ciclo, permanecia durante todo o período menstrual e continuava mesmo depois do fim do sangramento.
“Eu achava que era só cansaço. Três filhos, noites mal dormidas, mil coisas pra dar conta. Mas tinha algo estranho naquele cansaço — ele doía”, escreveu Lalá nas redes sociais.
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Além das cólicas persistentes, outros sinais começaram a surgir. Lalá sentia falhas na memória, desânimo e evitava sair de casa. Gostava de se arrumar, mas perdeu o hábito por saber que a dor acabaria impedindo seus planos.
A rotina passou a incluir compressas quentes e repouso forçado, enquanto os médicos mantinham a mesma resposta: “É normal”.
O ponto de virada veio durante um exame ginecológico de rotina, quando foi identificado um endometrioma — cisto formado por tecido endometrial no ovário. Mesmo com a evidência no laudo, o médico minimizou o achado, prescrevendo apenas anticoncepcional e antidepressivo.
Na foto: Lalá Mesquita com seus filhos Isabella, Valentina, e David
Lalá saiu do consultório sem entender o que significava aquela alteração. Foi só depois de pesquisar por conta própria e conversar com uma amiga diagnosticada com endometriose que ela reconheceu os sintomas.
A partir daí, buscou um especialista e recebeu, enfim, a confirmação: endometriose profunda grau 4, estágio avançado da doença. Lalá passou por duas cirurgias para retirada dos focos, o que reduziu significativamente a dor. Embora não exista cura, o tratamento devolveu qualidade de vida à paciente. Hoje, ela sente desconforto em poucos dias do mês e com intensidade bem menor.
O que é a endometriose?
A endometriose é caracterizada pelo crescimento de tecido semelhante ao endométrio – que reveste o útero – em outras partes do corpo, como ovários e intestino, formando lesões.
A doença interfere em diversos aspectos da vida da mulher, incluindo saúde mental, vida sexual, relações pessoais, trabalho e renda.
Entre os principais sintomas associados à endometriose estão: dismenorreia (cólica menstrual intensa), dor pélvica crônica, dispareunia (dor durante a relação sexual com penetração), infertilidade, queixas intestinais e urinárias com padrão cíclico.
As causas da endometriose ainda não são completamente conhecidas e o diagnóstico definitivo só é possível por meio de laparoscopia.
Ela enfatiza que, apesar de sempre relatar os sintomas aos ginecologistas, o problema nunca foi investigado a fundo. “Se homens tivessem endometriose, o diagnóstico não levaria anos e provavelmente já teríamos a cura”, desabafa Lalá em uma de suas publicações.
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A endometriose é uma doença crônica do sistema reprodutor feminino. Ela surge quando o endométrio, tecido que reveste o útero por dentro, se movimenta em sentido oposto durante a menstruação e pode atingir vários locais na cavidade abdominal, como ovário, intestino e bexiga
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Ela afeta mulheres em idade reprodutiva e tem origem desconhecida, apesar de em alguns casos ter influência genética. Não há evidências de que a doença tenha cura, contudo, existem tratamentos envolvendo anticoncepcional ou, em casos mais sérios, cirurgias
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A endometriose é uma doença caracterizada por dores intensas durante o período menstrual, chegando a incapacitar mulheres de exercerem suas atividades habituais,. Além disso, é comum dores durante relações sexuais, dificuldade em engravidar, dor e sangramento intestinais e urinários
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Sangramento menstrual desregulado e intenso, sangramento fora do período menstrual, cansaço, fadiga e dor na base das costas ou na parte inferior do abdômen durante a menstruação podem indicar a presença da doença
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Os sintomas da endometriose podem iniciar dias antes da menstruação e terminar dias depois. As dores também podem variar de pessoa para pessoa, tanto em relação à intensidade quanto à frequência. Aliás, a intensidade da dor pode não estar relacionada a extensão da doença. Em outras palavras, pessoas que sentem mais dor podem ter doença menos extensa e vice versa
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O diagnóstico da doença é clínico, apesar de não ser tão simples detectá-la. Recorrer a exames de imagem é o método mais comum, como a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética da pelve
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É muito importante estar atenta aos sintomas e procurar com urgência um médico especialista ao suspeitar da presença da enfermidade. A demora em diagnosticar os focos da doença pode levar ao estado mais grave do quadro, quando é necessário partir para uma intervenção cirúrgica
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Outro problema ocasionado pela condição é a infertilidade feminina. Contudo, isso não quer dizer que a gravidez não seja possível. Mulheres com endometriose podem engravidar. Na verdade, tudo dependerá da extensão da doença
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Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, a estimativa é que cerca de 8 milhões de brasileiras sofram com essa condição de saúde
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O cuidado com a saúde agora inclui ajustes na alimentação para reduzir a inflamação, prática regular de atividade física, sessões de acupuntura e osteopatia, além de acompanhamento psicológico.
Com quase duas décadas de sofrimento até receber respostas, ela acredita que histórias como a dela evidenciam a importância da escuta e do acolhimento da dor feminina. Lalá acredita que a experiência também a motivou a compartilhar a própria história para alertar outras mulheres.
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