Os EUA tentaram enterrar (e detonar) bombas atômicas no Alasca

Em 1958, a Comissão de Energia Atômica dos EUA (AEC) tinha um plano audacioso: enterrar seis bombas nucleares sob o solo gelado do Cabo Thompson, no noroeste do Alasca, e detoná-las para escavar um porto artificial. A explosão seria oito vezes mais poderosa que as bombas de Hiroshima e Nagasaki juntas, mas, segundo a AEC, seria praticamente “limpa” se realizada no início da primavera, quando a neve protegeria a vegetação e a maioria das aves já teria migrado.

O Projeto Chariot, como foi chamado, era apenas o primeiro passo de uma iniciativa maior chamada Projeto Plowshare, que visava usar explosivos nucleares para fins pacíficos, como escavar canais, redirecionar rios e até mesmo “terraformar” desertos.

Mapa do projeto (Imagem: reprodução)

A justificativa imediata para o projeto era econômica: um porto no Alasca facilitaria a extração de recursos naturais, impulsionando a região. Mas o verdadeiro objetivo era mais ambicioso.

“[O Projeto Chariot] era tanto um fim em si mesmo quanto um meio para atingir um fim”, explica Scott Kaufman, historiador e autor de Project Plowshare: The Peaceful Use of Nuclear Explosives in Cold War America. O plano serviria como teste para um projeto ainda maior: a construção de um “canal pan-atômico” na América Central, que substituiria o vulnerável Canal do Panamá.

Foto histórica de navios no Canal do Panamá (Imagem: Reprodução/Monovisions)

Na época, os EUA temiam que o Canal do Panamá — dependente de eclusas que poderiam ser sabotadas — fosse um alvo fácil em caso de guerra. Um canal ao nível do mar, escavado com bombas nucleares, seria mais seguro e eficiente.

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Bomba atômica no Alasca não deu certo

Mas os planos da AEC encontraram resistência imediata. Os Iñupiat, povos indígenas que viviam na região, temiam que as explosões contaminassem suas terras, afetando a caça, a pesca e sua subsistência. Eles já haviam visto os efeitos dos testes nucleares no Atol de Bikini (1954), onde a precipitação radioativa envenenou ilhas inteiras.

Geleiras nas Montanhas Chugach do Alasca (Imagem: Universidade de Zurique/Divulgação)

Sob pressão, a AEC adiou o projeto em 1960 para realizar estudos ambientais.

Os resultados foram desastrosos: mesmo com bombas “limpas”, a radiação poderia se espalhar descontroladamente, contaminando águas subterrâneas e áreas de caça.

Além disso, testes como o Projeto Gnome (1961), no Novo México, mostraram que explosões subterrâneas não contiveram a radiação como esperado.

A crescente oposição pública, incluindo cientistas, ativistas e a imprensa, levou ao cancelamento do Projeto Chariot em 1962. Sendo considerada uma das primeiras vitórias do movimento ambientalista nos EUA.

Até hoje, no Alasca, o Cabo Thompson permanece intocado.

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